O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lembrou esta quarta-feira a sua passagem pela África do Sul, na sua juventude, no tempo do regime do "apartheid", que considerou "impressionante e chocante".
O chefe de Estado falava aos jornalistas em Joanesburgo, à saída do Museu do Apartheid, que visitou esta quarta-feira com o primeiro-ministro, António Costa, antes de se reunirem com emigrantes portugueses e lusodescendentes para celebrar o Dia de Portugal.
"É uma visita que para mim é especialmente impressionante. Em primeiro lugar, porque represento um país que teve o seu país, um império colonial durante séculos", declarou.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que já fez discursos na Assembleia da República em que assumiu "a responsabilidade por esse colonialismo", com "tudo aquilo que houve de negativo", e observou: "Isso é muito atual ao visitar um museu que tem aqui recordações do passado na África do Sul, mas que são lições para o futuro".
Em seguida, o Presidente da República recordou que em jovem passou temporadas em Moçambique - então uma província ultramarina, da qual o seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, foi governador-geral entre 1968 e 1970 - e que nessa altura visitou a África do Sul, onde vigorava desde 1948 o regime de segregação racional do "apartheid".
"As pessoas não têm a noção do que era de facto o regime do "apartheid". Não tem mesmo paralelo com aquilo que era a experiência colonial em Moçambique ou Angola ou noutras colónias portuguesas naquela época, porque era a separação rígida total por raças, não havia possibilidade de circulação no território", disse.
O chefe de Estado salientou que "tudo, desde os transportes públicos, as escolas, as estruturas hospitalares, era definido em função da raça, não apenas a participação política".
"Isso era tão chocante, mesmo para quem tinha a noção de que estava a viver o fim do império português, que parecia impossível, inverosímil existir um regime como aquele", acrescentou.
Interrogado se lhe parece que as feridas deixadas pelo "apartheid" na África do Sul já estão curadas, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que "a África do Sul se transformou num colosso, numa potência com expressão global, que tem muitas diversidades regionais" e que "a integração é um processo que está em curso, difícil, até pela população enorme e pelas crises económicas que também têm chegado aqui".
O Presidente da República, que falou aos jornalistas depois do primeiro-ministro, cada um em separado, foi questionado no fim sobre a atualidade política portuguesa, em particular sobre os assuntos relacionados com o inquérito parlamentar à gestão da TAP e as recentes audições de governantes e ex-governantes.
"Eu não queria aqui no estrangeiro falar disso e, sobretudo, eu lembrava-vos que eu disse que era importante esperar por julho, porque temos um Conselho de Estado, e nessa altura teremos também já a perspetiva global de um processo que está em curso", respondeu.
No seu entender, "estando um processo em curso, é melhor esperar pelo final".
Marcelo promete voltar à África do Sul antes do fim do mandato
Na sua intervenção, o chefe de Estado transmitiu aos portugueses e lusodescendentes que o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, com quem se reuniu na terça-feira, lhe manifestou preocupação com a segurança e lhe comunicou que "vai encontrar-se com os representantes das comunidades portuguesas" na África do Sul.