França fez cópias dos ficheiros de Rui Pinto por medo de que sejam apagados em Portugal
29-03-2019 - 18:22
 • Renascença

Revista alemã "Der Spiegel" revela que operação para guardar cópias dos ficheiros armazenados pelo denunciante português ocorreu na semana passada em Budapeste.

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Os investigadores franceses que seguem o caso do Football Leaks, e das revelações feitas pelo denunciante Rui Pinto, fizeram cópias dos documentos que o "hacker" português armazenou, segundo a revista alemã "Der Spiegel".

As autoridades gaulesas temem que, depois da extradição do jovem para Portugal, os documentos pudessem ser destruídos. A revista afirma ainda que este receio se juntam ao de outros países europeus interessados na investigação.

A cópia desses ficheiros, cerca de 26 terabytes de dados, foi realizada antes de o pirata informático português ter sido extraditado da Hungria para Portugal.

A acção foi feita na semana passada, em Budapeste, e contou com a colaboração das autoridades húngaras.

A informação compilada é gigante, e a revista alemã faz a comparação com o volume que o português passou à "Der Spiegel" e ao Consórcio de Jornalistas de Investigação Europeus, no passado, em que 3,4 terabytes de informação foi equivalente a mais de 70 milhões de documentos.

Até agora, estes documentos deram origem a mais de 800 histórias em toda a Europa, que já levaram à instauração de vários processos e de multas. Um dos casos mais mediáticos foi o que resultou na condenação de Cristiano Ronaldo ao pagamento de 20 milhões de euros ao fisco espanhol e dois anos de pena suspensa.

Detido na Hungria preso em Portugal

O "hacker" foi detido na Hungria, ao abrigo de um mandado de captura internacional, e chegou na semana passada a Lisboa, acompanhado por elementos da Polícia Judiciária.

Na base do mandado estão acessos ilegais aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports e posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de futebolistas do clube lisboeta e do então treinador Jorge Jesus, além de outros contratos celebrados entre a Doyen e vários clubes de futebol.

Rui Pinto está indiciado de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa coletiva e outro de extorsão na forma tentada.

O colaborador do Football Leaks terá entrado, em setembro de 2015, no sistema informático da Doyen Sports, com sede em Malta, e é também suspeito de aceder ao endereço de correio eletrónico de membros do Conselho de Administração e do departamento jurídico do Sporting e, consequentemente, ao sistema informático da SAD leonina.

No período em que esteve detido na Hungria, Rui Pinto assumiu ser uma das fontes do Football Leaks, plataforma digital que tem denunciado casos de corrupção e fraude fiscal no universo do futebol, no âmbito dos quais estava a colaborar com autoridades de outros países, nomeadamente, França e Bélgica.

Advogado confirma que justiça francesa copiou documentos

William Bourdon, um dos advogados que defende Rui Pinto, confirmou esta segunda-feira que a justiça francesa fez uma cópia dos documentos do colaborador do Football Leaks e que todas as informações vão chegar “dentro de dias” ao Eurojust.

Em declarações prestadas no debate subordinado ao tema “Football Leaks e a proteção dos denunciantes – o papel de Rui Pinto”, em Lisboa, no qual estiveram presentes o também advogado Francisco Teixeira da Mota, a eurodeputada portuguesa Ana Gomes e o denunciante Antoine Deltour, o representante jurídico internacional de Rui Pinto vincou a atenção que as autoridades de diversos países têm sobre este caso.

“Sim, confirmo a cópia dos documentos [pela justiça francesa] e essa informação deve estar dentro de dias nas mãos do Eurojust”, afirmou Bourdon.

Questionado sobre os detalhes da colaboração estabelecida entre Rui Pinto e as autoridades gaulesas antes da detenção, William Bourdon garantiu que é uma ligação ativa e que existe interesse num novo contacto com o suspeito indiciado em Portugal pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada.

“Ele foi a Paris, onde foi ouvido pelo procurador durante cerca de duas horas. Não vou dar detalhes, mas foi uma conversa produtiva. O procurador francês quer vir cá, passar tempo com ele e ouvi-lo, tal como o procurador belga. Os contribuintes portugueses devem perceber que é do seu interesse ver este inquérito avançar”, sublinhou.

[Notícia atualizada a 1 de abril com as declarações do advogado William Bourdon]