Como é patente, a crise energética que estamos a atravessar manifesta-se na subida acentuada do preço dos combustíveis e da eletricidade. Mas há pior: na China já se registam cortes no fornecimento de energia elétrica. E na Índia o esgotamento das reservas de carvão faz recear problemas semelhantes.
A presente crise energética não se limita, como acontecia nos choques petrolíferos dos anos 70 do século passado, a um conflito entre produtores e consumidores de energia. É mais complexa, pois envolve também a transição energética, para fontes de energia menos poluentes, bem como o combate contra as alterações climáticas.
As emissões de CO2 abrandaram em 2020, por causa da pandemia. Mas no corrente ano, com a recuperação económica, regressaram em força. A Agência Internacional de Energia alertou para que os atuais gastos públicos em energias renováveis são apenas um terço do necessário.
Instalou-se, e bem, a convicção de ser imperativo reduzir o consumo de combustíveis fósseis, substituindo-o gradualmente por energias renováveis. Daí que, a nível global, se esteja a registar uma grande quebra nos investimentos em pesquisa e exploração de poços de petróleo, assim como no gás natural e nas minas de carvão. Os acionistas das multinacionais petrolíferas pressionam essas empresas para que invistam em energias renováveis, abandonando os combustíveis fósseis.
Os investimentos em pesquisa e exploração de petróleo demoram largos anos a dar frutos, quando dão. Aqueles acionistas receiam que, quando tal acontecer, eles percam dinheiro, em resultado da transição energética ter entretanto tornado obsoleto o consumo de combustíveis fósseis. Será o caso, por exemplo, de o parque automóvel ser nessa altura constituído sobretudo por carros movidos a eletricidade.
Neste quadro, a atual recusa dos países da OPEP e da Rússia de aumentarem a sua produção petrolífera, pois lhes interessa encarecerem o “crude” que vendem, também joga no sentido da alta dos preços. Mas esta recusa não é o principal fator da presente crise.
É positivo que as energias renováveis atraiam mais investimento, até porque esse investimento terá de triplicar até 2030 para estabilizar o mercado energético. Só que, até lá, teremos de pagar preços muito altos nos combustíveis e na eletricidade. Aí pagamos também parte do custo da descarbonização.