O CEO da rede social Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou, esta segunda-feira, que vai criar uma “comissão de investigação académica independente” para analisar o efeito que a rede social tem nas eleições.
A decisão é tomada depois do escândalo Cambridge Analytica e a dois dias de testemunhar perante o congresso norte-americano,
Numa publicação na sua página na rede social, o fundador da maior rede social do mundo faz saber que está a trabalhar com “diversas fundações nos Estados Unidos para formar um comité de académicos que vai, “de forma independente”, gerir o processo de candidatura a fundos e acesso aos dados da rede para investigação académica.
Os investigadores convidados para integrar este comité terão assim o papel de definir as áreas de investigação, manter a sua independência, bem como assegurar que os dados que são cedidos aos investigadores não comprometem a privacidade dos utilizadores.
“Vamos dar a estes investigadores o acesso a recursos para que possam tirar conclusões imparciais sobre o papel do Facebook nas eleições, incluindo a forma como estamos a lidar com esse risco na plataforma e que passos temos de dar em eleições futuras. O seu trabalho será partilhado com o público e não vamos exigir aprovar o trabalho destes investigadores antes de publicar”, faz saber o CEO da empresa detentora do Facebook, WhatsApp e Instagram.
O Facebook já tem uma unidade que trata do relacionamento com a academia – o Facebook Research. No entanto, o acesso a dados da plataforma estava limitado à aprovação prévia da própria empresa – e não de um comité independente, como propõe agora Zuckerberg. Este facto levava muitos investigadores a acusar a rede social de apenas aprovar investigações que fossem benéficas para a imagem da plataforma.
“O Facebook finalmente ouviu os investigadores”
Para Francisco Conrado, investigador do MODA - Monitoring Online Discourse Activity, um grupo de investigação de rede sociais da Universidade do Minho, a decisão de tornar o processo de acesso aos dados mais transparente deve ser vista com bons olhos, ainda que veja alguns problemas na decisão da rede social.
“O Facebook decidiu ouvir, em parte, os clamores daqueles que afirmavam que, caso tivéssemos mais acesso à investigação académica, conseguiríamos mais facilmente perceber os efeitos que a plataforma tem no nosso contexto social”, começa por defender o investigador da Universidade do Minho. “No entanto, as entidades responsáveis pela análise estão todas inseridas num universo anglo-saxônico, e isso pode implicar perspetivas bastante distintas sobre como se encara este tipo de investigações”, aponta o investigador.
O aluno de doutoramento a desenvolver investigação sobre o tema aponta ainda o facto de a gigante de Palo Alto não explicar que tipo de dados está disponível para fornecer aos investigadores, já que o comunicado da empresa fala da necessidade de manter a privacidade dos utilizadores, mas não explica que dados pode ceder à academia.
“Resta saber se não é apenas uma ação de relações públicas para melhorar a imagem da empresa, ou se será uma iniciativa para levar a sério ao longos dos anos. Teríamos estudos mais relevante se tivéssemos estudos longitudinais”, lembra ainda Francisco Conrado.