A diabetes é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, indica o último relatório do Observatório Nacional da Diabetes.
Trinta por cento da população que sofre um enfarte ou um acidente vascular cerebral (AVC) tem diabetes, de acordo com os dados de 2015.
Esta realidade levou a Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (APDP) a organizar uma conferência que vai reunir especialistas em cardiologia e diabetologia, “duas especialidades que têm de trabalhar, cada vez mais, lado a lado”, refere o diretor clínico da APDP, João Filipe Raposo em entrevista à Renascença.
O objetivo do encontro “O Coração da Diabetes”, que vai decorrer em Lisboa nos dias 16 e 17, é “estabelecer pontes entre os saberes e encontrar formas de melhor enfrentar o problema”.
“O risco de as pessoas com diabetes terem problemas cardíacos como enfartes, doenças arteriais periféricas que levam às amputações é maior - praticamente duplica – e a gravidade também é maior”, sublinha João Filipe Raposo.
A doença tem impacto nos doentes e na sua qualidade de vida, mas também na das suas famílias e até para o Estado. “Quando dizemos que a diabetes é insustentável estamos a falar das doenças e tratamentos a ela associados. E os principais relacionam-se com a área cardiocirculatória, esclarece João Filipe Raposo.
Mais de um milhão de portugueses tem diabetes e quase metade não sabe
É apenas uma estimativa, mas os especialistas calculam que o número de portugueses que tem diabetes deve rondar 1 milhão e 100 mil.
O problema é que, segundo o director clínico da Associação Protetora de Diabéticos, “mais 40% das pessoas que têm diabetes não sabem que já a têm. O risco de atraso no diagnóstico e tratamento é muito elevado, está associado também ao maior risco de complicações”.
E quantas mais as complicações, maiores os custos: o que se gasta com medicamentos, com a vigilância da diabetes, nas consultas e nas complicações. “As pessoas com diabetes estão, em média, mais três internadas do que as pessoas que não têm a doença”, esclarece João Filipe Raposo.
Prevenção, rastreio e diagnóstico precoce custam dinheiro, mas há retorno
O especialista defende a aposta numa estratégia de prevenção, com alteração de hábitos.
“É necessário que seja assumida pela sociedade. É evidente que a escola é importante, mas a família também o é, assim como o local onde vivemos, o trabalho e os horários, as pressões sociais que temos, são todos relevantes para o aparecimento da diabetes tipo II. Por isso, o primeiro desafio deve ser a prevenção da diabetes.”
Por outro lado, é preciso apostar no diagnóstico precoce. “As pessoas vivem mais anos com diabetes, as complicações vão surgindo e Portugal precisa, claramente, de ter um plano estratégico de rastreio, diagnóstico e de tratamento das complicações, quer sejam da retina que levam à cegueira, às complicações dos rins que geram a insuficiência rena. Ou, por outro lado, os tratamentos adequados que podem prevenir as doenças cardíacas”, afirma João Filipe Raposo.
“Infelizmente, ainda gastamos muito dinheiro no tratamento das complicações – o que é necessário – mas aquilo em que temos que começar a apostar é na prevenção primária, na tal mudança, porque é ela que vai condicionar o sucesso das políticas de saúde de um país. Está demostrado que é o investimento que traz maior retorno”, conclui João Filipe Raposo.
A conferência “O Coração da Diabetes” é organizada pela Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal e tem o patrocínio científico das Sociedades Portuguesas de Cardiologia e de Diabetologia.