O BCP tinha mais de 125 mil créditos a famílias e empresas com moratórias no final de setembro, envolvendo um valor total de empréstimo de quase nove mil milhões de euros.
Nas contas dos primeiros nove meses do ano, comunicadas esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o banco liderado por Miguel Maya indicou que tem mais de 125 mil operações com moratórias, envolvendo créditos no valor total de 8,9 mil milhões de euros.
Em 30 de setembro, o BCP tinha, em clientes particulares, 59.560 operações de crédito com moratória ao abrigo da lei do Governo e ainda 41.554 moratórias privadas (ao abrigo das regras da Associação Portuguesa de Bancos).
Ou seja, há mais de 101 mil créditos de particulares com moratórias que, no total, têm um valor de 4,2 mil milhões de euros, sendo 91% do valor referente a crédito à habitação.
Já os créditos de empresas com moratórias são 23.909, envolvendo num valor total de 4,7 mil milhões de euros.
O banco presidido por Miguel Maya indicou também hoje que, em 23 de outubro, ascendia a 2,4 mil milhões de euros o financiamento a empresas ao abrigo das linhas covid-19 (garantidas pelo Estado).
Na terça-feira, na conferência “Banca do Futuro”, o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, alertou para os riscos do fim das moratórias bancárias antes de as empresas voltarem a ter liquidez.
“A retirada de apoios antes do tempo seria dramática. Temos que dar tempo à economia para respirar”, disse Miguel Maya.
Já hoje, na conferência de imprensa de apresentação de resultados (queda dos lucros de 46% para 146,3 milhões de euros entre janeiro e setembro deste ano), considerou um "equívoco" pensar que "o problema está no fim das moratórias", considerando que o problema será as empresas terem capacidade de gerar dinheiro para pagarem as suas obrigações financeiras.
Miguel Maya acrescentou que “o problema está na pandemia, no regressar da atividade às empresas, na capacidade das empresas gerarem ‘cash flow’ [fluxo de caixa]”.
O gestor disse que as formas de gerar esse fluxo são através da concessão de crédito adicional com garantias do Estado, mas salientou que Portugal tem “o nível de dívida que tem e a situação orçamental que tem” como potenciais contrapartidas.
Outra forma é “não retirar o dinheiro da economia, que já está nos clientes”, para que “não tenha de ser devolvido neste período”.
As moratórias de crédito (que suspendem pagamentos de capital e/ou juros) foram criadas como uma ajuda a famílias e empresas penalizadas pela crise económica desencadeada pela pandemia de Covid-19.
No final de setembro, o Governo decidiu prolongar até setembro de 2021 as moratórias para créditos de empresas e particulares (neste caso, créditos à habitação e para educação).
No caso das empresas, porém, a prorrogação das moratórias prevê soluções diferentes para as empresas em função do setor em que estão inseridas e do impacto da pandemia na sua atividade.
Assim, as empresas inseridas em setores particularmente afetados pela pandemia, nomeadamente as do turismo, cultura, setor social ou comércio e reparação de automóveis, beneficiarão do prolongamento da moratória até 30 de setembro nos exatos moldes definidos até 31 de março, ou seja, continuarão a beneficiar da suspensão do pagamento do capital em dívida e dos juros.
Já para as restantes empresas que atualmente estão abrangidas pelas moratórias, o prolongamento até 30 de setembro de 2021 mantém a suspensão do pagamento de capital, mas não dos juros.