Os hotéis e grupos hoteleiros estão a sentir uma grande pressão para contratar trabalhadores que possam garantir a reabertura e funcionamento das unidades, especialmente quando se avizinha um verão com muita procura por parte de turistas nacionais e estrangeiros.
Em entrevista à Renascença, Bernardo Trindade, o novo presidente da AHP – Associação de Hotelaria de Portugal – admite que há um constrangimento, “absolutamente verdadeiro”, que se prende com a melhoria das condições salariais. E garante que neste momento “não há associado da AHP que não esteja já a fazer atualizações salariais à sua força de trabalho”.
Muitos acrescentam outras condições/benefícios que, de alguma forma, compensem os sacrifícios e exigência de disponibilidade que este trabalho exige.
O hoteleiro, administrador do grupo madeirense Porto Bay, faz questão de valorizar o Acordo Coletivo de Trabalho alcançado com o SITESE – Sindicato dos Trabalhadores do Sector dos Serviços (filiado na UGT) e que entrou em vigor no dia 21.
“Conseguimos fazer a revisão das carreiras, das categorias e dos salários, com um ganho de causa para a AHP: a referência explícita ao banco de horas como fator de flexibilidade e adaptabilidade”.
Difícil, senão impossível, será um acordo com a FESHAT – Federação de Sindicatos da Hotelaria, da CGTP e que representa a maioria dos trabalhadores do setor. O banco de horas é precisamente um dos “pontos de honra” da estrutura sindical, que não o aceita de forma alguma.
Bernardo Trindade garante que a associação está disponível para voltar à mesa das negociações. Mas avisa que o ponto de partida será sempre o que já conseguiu com o ACT assinado com o SITESE.
“Estamos confrontados com a escassez de recursos humanos e temos de caminhar para, de alguma maneira, conseguirmos obter um compromisso entre a infraestrutura hoteleira e os nossos colaboradores. Este ano de regresso, de mais reservas, está também, por isso, a ser muito desafiante do ponto de vista da organização”, diz.
Consulados precisam de “via verde” para agilizar processos de imigrantes
A falta de mão de obra já se fazia sentir antes da pandemia e depois, acentuou-se. A imigração é uma alternativa e há um acordo de mobilidade assinado com diversos países, nomeadamente da CPLP, Brasil, India e Filipinas. No entanto, os empresários do setor continuam a dizer que não funciona.
Segundo Bernardo Trindade, o acordo de mobilidade já foi ratificado pela maioria dos países da CPLP. Portanto, “estamos em condições teóricas de assegurar a vinda destas pessoas para Portugal. Nós precisamos delas”.
No entanto, na opinião do hoteleiro, os consulados não estão a agilizar os processos. “Precisam de uma via verde para não obstaculizar a conclusão dos processos. Entendemos que com um contrato de trabalho, um comprovativo de morada e registo criminal limpo, estão criadas as condições para que essa mobilidade aconteça”, esclarece.
Por isso, apela a que os consulados, especialmente dos países de língua oficial portuguesa, acelerem os processos e que o mesmo possa acontecer noutros países onde há pessoas que querem vir trabalhar para Portugal.
Entretanto, ao abrigo do programa de responsabilidade social da AHP, o HOSPES, mais de 30 refugiados ucranianos (maioritariamente mulheres) já conseguiram emprego em unidades hoteleiras.
“É um ponto de partida, mas a nossa intenção é alargar este projeto, já que ele é ganhador para ambas as partes. Por um lado, empregamos as pessoas e damos-lhe uma perspetiva de vida; por outro, ajudam-nos neste esforço para fazer face à escassez d recursos humanos”, diz Bernardo Trindade.