Os chefes e subchefes das equipas de urgência, com exceção de dois, do serviço de obstetrícia do Hospital Santa Maria, em Lisboa, apresentaram demissão do cargo, confirmou esta sexta-feira à Renascença a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).
Depois dos médicos terem entregados minutas a manifestar indisponibilidade para fazer mais horário extraordinário, para além das 150 horas previstas na lei, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) decidiu reunir com os próprios médicos.
"O que ouviram nessa reunião foram ameaças diretas de que deveriam cancelar as férias e de que teriam que devolver o valor do trabalho extraordinário que fizeram em serviço de urgência até à data. Isto é inadmissível e inqualificável e uma atitude prepotente e arrogante por parte do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria. Na sequência os médicos, chefes de equipa e sub-chefes de equipa de obstetrícia apresentaram a sua demissão e foi mesmo quase a totalidade deles", afirma à Renascença a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá.
Sobre as razões da demissão dos responsáveis, Joana Bordalo e Sá afirma que vem na sequência do Conselho de Administração ter comunicado o encerramento do serviço de obstetrícia devido às obras da nova maternidade do Hospital Santa Maria, que integra o CHULN, e lembra a demissão do antigo diretor do departamento Diogo Ayres de Campos e da diretora do Serviço de Obstetrícia Luísa Pinto.
"O que estes médicos pretendem é ver de volta a sua diretora de serviço e o seu diretor de departamento, em quem os médicos confiam plenamente e onde reconhecem todo o mérito de liderança, um mérito de gestão e uma capacidade de gestão. Isso e conhecer as condições em que vão trabalhar", adianta Joana Bordalo e Sá.
Quanto ao impacto no dia a dia destas demissões, a presidente da FNAM indica que o serviço "vai continuar a ser assegurado", mas avisa que os serviços de urgência estarão indisponíveis para realizar mais horas extraordinárias. "A administração do Hospital de Santa Maria vai ter que arranjar aqui uma solução e recomendamos que haja aqui bom senso e que os médicos sejam ouvidos e que sejam atendidas as suas preocupações. Se calhar é mesmo necessária a intervenção direta do senhor ministro da saúde, Manuel Pizarro."
A agência Lusa contactou o CHULN que afirmou que "para já, não há comentários a fazer". A direção clínica do hospital reúne-se durante a tarde desta sexat-feira para discutir esta tomada de posição.
No início desta semana, foi exonerado o diretor de Obstetrícia e Ginecologia do hospital de Santa Maria devido a desacordos sobre o projeto de restruturação do serviço, uma saída que foi contestada por vários profissionais de saúde.