A proposta para acabar com a mudança da hora é um sinal positivo que pode promover o debate em torno dos maus hábitos de sono e trabalho dos portugueses, defende Teresa Paiva, especialista portuguesa em sono.
Em declarações à Renascença, Teresa Paiva alerta que “em Portugal começa-se tudo muito cedo e acaba-se tudo muito tarde e isso é que faz mal”.
“É preciso pensar as coisas de outra maneira. Nos países do Norte da Europa não é assim. As pessoas levantam-se cedo, mas não continuam a trabalhar até muito tarde”, compara.
Para a especialista em problemas do sono, a atual “mistura de horários matutinos e notívagos é muito inconveniente em Portugal, porque a sociedade portuguesa está a ter muita privação de sono”.
Dá o exemplo de um estudo recente, segundo o qual “a percentagem de pessoas que dorme menos de cinco horas é extraordinariamente alta em Portugal, quando comparada com a percentagem nos Estados Unidos ou no Brasil”.
Segundo Teresa Paiva, o paradigma das oito horas de sono chegou ao fim e trata-se de uma situação tão preocupante quando a tendência para dormir pouco começa “logo muito cedo na vida”.
“Havia o paradigma das oito horas para dormir, oito para trabalhar e oito para fazer o que nos apetecer e esse paradigma, atualmente, não existe em Portugal. As pessoas trabalham 10 ou 12 horas, as crianças estão na escola durante muitas horas. Esta engrenagem que estamos a viver, pondo crianças, mulheres e crianças a trabalhar muito não é uma boa solução”, remata Teresa Paiva.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciou esta sexta-feira que vai propor o fim da mudança da hora, depois de um inquérito realizado a 4,6 milhões de europeus.
Uma maioria "muito clara" de 84% dos cidadãos europeus pronunciaram-se a favor do fim da mudança de hora na consulta pública realizada este verão, de acordo com resultados preliminares divulgados esta sexta-feira pela Comissão Europeia.
Os resultados preliminares publicados pelo executivo comunitário - os finais serão divulgados "nas próximas semanas" - revelam que os portugueses que participaram no inquérito "online" estão em linha com a média europeia, já que 85% também defenderam que deixe de se mudar o relógio duas vezes por ano, o que Bruxelas pretende agora implementar, com a apresentação de uma proposta legislativa.
Naquela que foi, de forma destacada, a consulta pública mais participada de sempre, com mais de 4,6 milhões de contributos oriundos de todos os Estados-membros, a maior parte das respostas veio da Alemanha, onde o assunto foi particularmente mediatizado, apontando a Comissão que a taxa de participação em percentagem da população nacional variou entre os 3,79% na Alemanha e os 0,02% no Reino Unido, tendo em Portugal participado no inquérito 0,33% da população.
Os resultados preliminares, acrescenta Bruxelas, "indicam também que mais de três quartos (76%) dos participantes consideram que a mudança de hora duas vezes por ano é uma experiência «muito negativa» ou «negativa»", e "como justificação do desejo de pôr fim a esta regras, alegam-se o impacto negativo na saúde, o aumento de acidentes de viação ou a falta de poupanças de energia".