Profissionais de saúde, empresários e gestores apelam ao regresso controlado do funcionamento da economia e propõem uma série de medidas como o uso generalizado de máscaras e das novas tecnologias, para controlar uma nova vaga de infeções pelo novo coronavírus.
Numa carta enviada ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiro-ministro, um conjunto de profissionais de saúde, de gestores e empresários, entre eles os presidentes da Altice, da Vodafone e da NOS, assim como gestores ligados à indústria, à cultura e ao turismo, recordam que é fundamental criar uma alternativa “a novos períodos de ‘lockdown’ – que se apresentam como um modelo cego e com impacto na economia de um país”.
Na carta, a que a agência Lusa teve acesso, dão como exemplo o Japão, Singapura e a Coreia do Sul para afirmar que é possível, com medidas de contenção muito rigorosas, manter a economia e funcionamento sem "lockdown" e, ao mesmo tempo, conter a propagação do vírus.
“Acreditamos que não é possível suspender a atividade económica até que não exista qualquer risco de contágio. O nosso modelo de sociedade não suportaria uma espera tão prolongada. Mas também consideramos que seria uma atrevida inconsciência retomar a atividade sem adotar cuidados adicionais que garantam que não teremos um ressurgimento a curto e médio prazo”, escrevem.
Uso obrigatório de máscaras e diagnóstico precoce
Como medidas adicionais, sugerem o uso obrigatório de máscaras por parte de toda a população para reduzir a transmissão do vírus e que, em caso de escassez de material, estas sejam confecionadas em casa seguindo as instruções do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas e de entidades internacionais como o Centro de Controlo de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
Relativamente a esse tema, a ministra da Saúde descartou, no domingo, em conferência de imprensa, a possibilidade de um regresso à normalidade, fazendo testes às pessoas e dando-lhes máscaras para que se possa abandonar o isolamento social e descongelar a economia. "Fosse assim tão simples. O uso da máscara só tem alguma eficácia quando utilizada em combinação com outras medidas, desde logo o isolamento social e higienização geral", frisou Marta Temido.
O diagnóstico precoce de Covid-19, testando todos os suspeitos num prazo de 24 horas desde a manifestação de sintomas, a massificação da utilização dos testes serológicos na população portuguesa, e a utilização, com supervisão da comissão de proteção de dados, de informação cedida pelos operadores de redes móveis para identificar cidadãos eventualmente expostos a risco de contágio par serem informados via SMS ou contacto telefónico são outras das medidas defendidas.
Este grupo de personalidades defende o uso de equipamento de proteção individual em todos os profissionais de saúde, tanto em áreas Covid-19 como não Covid-19, para evitar contágio por doentes que não se enquadrem inicialmente na definição de caso suspeito. Também defendem a capacitação de grupos específicos em empresas, escolas e comunidades para identificação de casos suspeitos na comunidade.
Defendem que sejam mantidas todas as medidas de distanciamento “que não tenham impacto económico, como o regime de teletrabalho sempre que possível”, assim como a ponderação individual do aliviar de cada medida de contenção.
Esperar o melhor, preparar para o pior
Criar estrutura de Laboratórios e Médicos sentinela para identificação de transmissão do novo coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19, assim como a definição dos necessários investimentos adicionais a efetuar no Serviço Nacional de Saúde, “de forma a estar preparado para todos os cenários”, são outras das propostas.
“Conforme o alerta da Ordem dos Médicos, temos hoje a consciência clara de que milhares de utentes evitam o SNS, por receio de potencial contágio. Este facto leva a que patologias mais frequentes e igualmente fatais estejam a ser diagnosticadas tardiamente, com consequente aumento da morbilidade e mortalidade”, recordam.
Defendem ainda que “Portugal precisa de, tão rápido quanto possível, reinventar e ajustar rotinas tendentes ao regresso a uma certa normalidade reinventada”, para que a economia possa “iniciar uma recuperação acelerada”.
Os mais recentes dados oficiais dão conta de 504 mortos e 16.585 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus em Portugal.
[notícia atualizada às 12h09]