O presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, considera que o Governo foi "deselegante" ao recusar de modo definitivo cortar 15% do consumo de gás, no quadro do acordo estabelecido no seio da União Euroopeia.
"Portugal poderia ter sido, no mínimo, mais elegante, tendo em linha de conta tudo o que vamos buscar à Europa", diz o antigo secretário de Estado da Energia à Renascença.
Ribeiro da Silva sustenta que Portugal "deveria ter tido uma reação mais contida, chamando a atenção para algumas especificidades do nosso sistema energético, mas não de modo tão contundente".
Na mesma linha expressa-se o antigo ministro Luís Mira Amaral: "Quando temos um momento dramático para a Europa, era da mais elementar cortesia e sentido de responsabilidade não reagir com a recusa de reduzir consumos."
Mira Amaral lembra que "Portugal anda há muitos anos a pedir, sistematicamente, a solidariedade financeira da Europa" e exemplifica: "Basta lembrar quando foi da bancarrota, em 2011, e o PRR, com o primeiro-ministro a andar pela Europa a pedir a solidariedade."
O acordo para a redução de consumo de gás comporta exceções. No caso português, o corte deve ficar abaixo dos 7%, tendo valido o argumento da falta de interconexão energética com o resto da Europa.
Para Ribeiro da da Silva, o argumento português faz, politicamente, sentido, mas Mira Amaral desconfia: "A história está mal contada."
"O Governo só fala das interligações terrestres, quer de energia elétrica quer de gás, entre a Península Ibérica e a França, mas o que acontece é que nós, no gás natural, estamos a receber há já muito através do terminal de gás natural liquefeito em Sines e, curiosamente o minsitro do Mar anunciou um grande plano, dizendo que Portugal podia ajudar a Europe no fornecimento do gás natural e a ideia era muito simples: os barcos chegavam a Sines com gás natural liquefeito e uma parte desse gás era imediatamente desviado para a Europa, acabando a terminais no Norte, perto da Alemanha."
"General inverno"
Como se previa, a Rússia fechou esta quarta-feira um pouco mais a torneira do gás para a Europa, com o fluxo do gasoduto Nordstream 1 reduzido a 20 por cento da sua capacidade.
O próximo inverno poderá ser difícil na Europa, mas Ribeiro da Silva nota que tudo dependerá do tipo de inverno que possamos ter: "O inverno é mais um problema, mas não diria dramático. Tudo depende do fator meteorologia. Um quadro de temperaturas moderadas, com alguma precipitação e algum vento será completamente diferente de um quadro de inverno seco, frio e sem o contributo da energia eólica."
"A Rússia conta que o 'general inverno' a ajude na chantagem", reforça,o presidente da Endesa.