No dia em que se soube dos atrasos no atendimento na linha Saúde 24 durante o surto de coronavírus no país, o Governo afastou Henrique Martins, presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), a entidade responsável pela Linha SNS24. Estava naquele lugar há seis anos, e poderia continuar nele porque o limite de mandatos são três.
Em declarações à Renascença, Henrique Martins confessou que foi apanhado de surpresa, e que não lhe comunicaram a razão de ele e equipa que liderava não terem sido reconduzidos. “Não me foi informado o porquê. Não me foi dito o motivo”, avançou.
Esta situação ocorre com o agravar da crise de coronavírus e depois de António Costa ter afirmado no parlamento, referindo-se a Graça Freitas, que “não se mudam generais a meio da batalha”.
O agora ex-presidente do SPMS pensa que “não parece muito avisado estar a criar estas perturbação nas equipas e nas instituições”. E defende que desde 2013 fez daquele organismo reconhecido em termos nacionais e internacionais.
Em declarações à Renascença, Henrique Martins não acredita que tenha sido devido a alhas na linha Saúde24. O ex-presidente diz que durante o dia de hoje percebeu que o novo conselho “estava a ser preparado há alguns meses sem o nosso conhecimento.
Em relação às falhas na linha, Martins aponta críticas aos Governo e iliba a sua gestão. “Tem a ver com a dificuldade em dar resposta a um aumento muito grande de chamadas relacionadas com esta epidemia, e com a incapacidade do ministério de reagir ao nosso pedido de libertação de recursos de enfermagem para reforçar a linha SNS 24”, assegura.
Foi a secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, que informou Henrique Martins de que não iria ser reconduzido.
O Observador noticia que já há um substituto para o lugar de Henrique Martins: o antigo secretário de Estado, Luís Goes Pinheiro.
A comissão de serviço do agora ex-presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde tinha terminado no dia 31 de dezembro de 2019, mas continuou em funções até ontem.
Bastonário da Ordem dos Médicos questiona o timing da decisão do Governo
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, também ouvido pela Renascença afirma que esta é uma opção do Governo, mais precisamente do primeiro-ministro ou da ministra da Saúde, mas alerta para que esta “é uma situação complexa”, que tem variações “que tem de ser corrigidas permanentemente”. “Imagino que as chamadas aumentaram bastante nos últimos dias para a linha Saúde 24 e para a linha de apoio ao Médico”, argumenta.
Por isso, Miguel Guimarães não está certo de que seja “a altura para substituir um major”, porque o general a que António Costa se referia é Graça Freiras. “Nesta altura não sei se era a medida adequada, a solução era reforçar o serviço”, alerta.
Em relação ao trabalho de Graça Freitas, Miguel Guimarães defende que esta tem feito “um bom trabalho”. “Existem algumas deficiências? Existem. É uma situação que exige muito de quem lidera estes processos. Acho que a doutora Graça Freitas está muito sozinha. Até para a apoiar na relação com a Comunicação Social”, defende o Bastonário.
“Apesar de tudo isso, ela tem feito um trabalho magnífico. É preciso dar às autoridades de saúde os meios que precisam”, conclui Miguel Guimarães.