A Gebalis, empresa municipal que gere os bairros de habitação social em Lisboa, mudou de sede no início de fevereiro deste ano. Passa de um edifício próprio para um arrendado. A nova casa da Gebalis fica no Campo Pequeno, na Rua Laura Alves, em plena zona nobre da cidade de Lisboa.
Em resposta à Renascença sobre a justificação da mudança, a empresa municipal revela que vai pagar 33 mil e 500 euros por mês para ficar neste espaço que pertence a um privado. Esta terá sido uma das três opções finais, e a mais barata.
A mudança, explica a Gebalis, acontece porque as anteriores instalações “não cumpriam a legislação em vigor no campo da saúde, higiene e segurança no trabalho, ganhando esta realidade uma importância acrescida, e ainda mais atual, com o período de pandemia/pós- pandemia que vivemos”.
Além disso, alega a empresa municipal, a mudança de sede era uma “reivindicação antiga” que já vinha sendo tema em anteriores administrações da Gebalis. As instalações eram “manifestamente insuficientes para albergar” os cerca de 100 trabalhadores, justifica a empresa.
No entanto, a mudança- que custou 45 mil euros, segundo as contas da empresa- não deve ser definitiva. Nas respostas à Renascença, a Gebalis esclarece que a intenção é que “o novo espaço seja uma solução provisória (no máximo até 5 anos)”, e que, num segundo momento, os 100 trabalhadores da empresa voltem para um espaço da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Se isso se verificar, a Gebalis vai gastar mais de dois milhões de euros em rendas.
No portal Base, onde se encontram os contratos públicos, existem alguns contratos relacionados com a mudança de sede. Os “serviços de mudança e montagem de mobiliário”, por exemplo, custaram 18 mil 855 euros, num contrato assinado com a Citymover.
Até aqui a Gebalis estava sediada no Bairro Alfredo Bensaúde, na freguesia dos Olivais, na Portela e junto a vários edifícios de habitação social, num imóvel que pertence à autarquia, onde a Gebalis promete agora erguer um serviço municipal “de forte índole social”.
Em resposta à Renascença, a empresa da CML rejeita que esta mudança seja um “contrassenso” e implique um afastamento da realidade das habitações sociais. “A Gebalis tem, e manterá, uma forte presença física de proximidade”, garante a nota. A empresa justifica que vai manter os 10 gabinetes de intervenção local, que servem para o contacto com os moradores dos bairros de habitação social.
A Gebalis promete estar em “permanência no terreno” através das 130 pessoas que trabalham nestes gabinetes, e que permitem um “contacto continuado com as comunidades”.
Mudança motivada por problemas de segurança
Formalmente, a saída da antiga sede na zona da Portela deu-se porque as instalações antigas “não cumpriam a legislação em vigor no campo da saúde, higiene e segurança no trabalho”, mas a Renascença sabe que existiram casos de trabalhadores “ameaçados” por moradores enquanto estavam a trabalhar.
Em causa estariam pessoas que tomam decisões que afetam a vida dos moradores dos bairros de habitação social, e que eram pressionadas junto ao local de trabalho. Havia funcionários da Gebalis que eram pressionados a beneficiar as pessoas que os abordavam na rua. A empresa sustenta que esta mudança teve o aval da Comissão de Trabalhadores e sindicatos “ouvidos nos temos legais”.
Desde que a coligação Novos Tempos venceu as eleições autárquicas, em setembro de 2021, a Câmara Municipal de Lisboa foi mudando (como é habitual) a cor política dos gestores das empresas municipais.
Como noticiou o Observador na altura, para administrador da Gebalis, Carlos Moedas escolheu Fernando Angleu, antigo conselheiro do PSD. Como vogal executivo da empresa ficou Gonçalo Sampaio- ex-candidato do PSD à Assembleia Municipal de Lisboa- nome que assina a grande maioria dos contratos públicos que estão no Portal Base ligados à mudança de sede.