Médicos Sem Fronteiras responsabiliza políticas europeias pelo recorde de mortes no Mediterrâneo
22-11-2023 - 11:19
 • Lusa

A organização afirma que os Estados com costa para o Mediterrâneo colocaram "conscientemente a vida de pessoas em risco".

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou esta quarta-feira os Estados costeiros europeus de práticas de violência contra refugiados no Mediterrâneo central, garantindo que isso, em conjunto com a inação do resto da Europa, provocou um recorde de mortes em 2023.

No relatório "Ninguém veio ao nosso socorro: A nova normalidade das políticas de migração da União Europeia no Mediterrâneo central", divulgado esta terça-feira, a MSF documenta vários casos em que os Estados com costa para o Mediterrâneo colocaram "conscientemente a vida de pessoas em risco".

Segundo a organização, que baseou o relatório em dados médicos e operacionais recolhidos a bordo do seu navio de resgate 'Geo Barents', os Estados costeiros atrasam deliberadamente ou não coordenam eficazmente os resgates e "facilitam a repulsão [dos migrantes] para locais inseguros".

"Com quase 2.200 crianças, mulheres e homens dados como desaparecidos ou mortos no Mediterrâneo central este ano, 2023 já conquistou o recorde nada invejável de ser o ano mais mortal desta rota de migração desde 2017", apontou a MSF.

Este ano, "o número de pessoas que chegaram à costa italiana através da rota do Mediterrâneo central mais do que duplicou em comparação com o mesmo período do ano passado, com a Tunísia a ultrapassar a Líbia como principal ponto de partida. Este aumento significativo nas partidas, juntamente com a falta de capacidade de resgate do Estado, resultou em mais barcos em perigo e naufrágios", acusou a organização médica.

"Desde o início do ano, uma média de oito pessoas por dia perdeu a vida ou desapareceu no Mediterrâneo central", sublinhou a MSF.

O documento descreve os "níveis extremos de violência" que os sobreviventes relataram às equipas da MSF a bordo do 'Geo Barents'".