A diretora executiva da Unicef Portugal, Beatriz Imperatori, defende que a justiça deve ser igual para todas as vítimas de abusos até em termos indemnizatórios.
Em reação à entrevista do patriarca de Lisboa à Renascença, em que D. Rui Valério defendeu a indemnização de todas as vítimas de abusos sexuais, dentro e fora da Igreja, Beatriz Imperatori diz que “sim, tem razão. Não há vítimas de primeira nem de segunda”.
“A responsabilidade e a dimensão e consequência do ato não deve ser determinada pelo sítio ou onde é que este ato ocorreu”, diz.
Na visão da diretora executiva da Unicef Portugal, “a justiça deve ser igual para todas as vítimas, até em termos indemnizatórios”.
“Não faz sentido que um abuso porque tenha ocorrido no seio da Igreja ou fora dele, seja tratado de forma diversa. Mais ainda, que a vítima seja tratada de forma diferente”, acrescenta.
Nesta matéria, a Unicef vai mais longe no que toca à prevenção, propondo mesmo que profissionais em contacto com crianças e adolescentes, seja de que área forem, sejam previamente escrutinados.
“Antes, é ter o cuidado de fazer um escrutínio ao seu percurso profissional e à sua conduta”, defende Beatriz Imperatori, apontando a uma segunda dimensão na questão da prevenção: a formação.
“É fundamental que tenham formação técnica e sensibilização para a sua relação ‘saudável’ com a criança, mas também saber olhar para uma criança e detetar sinais de sofrimento”, sinaliza.
"Reparações fora da Igreja são muito difíceis"
Dulce Rocha, presidente do Instituto de Apoio à Criança, considera difícil reparar as vítimas de abusos fora da Igreja.
Razão pela qual felicita o patriarca de Lisboa, não só pelo que diz ser a evolução na intenção de indemnizar vítimas de abusos na Igreja, mas também de pretender que se essas compensações se alarguem a outras vítimas.
“Eu fico muito satisfeita e felicito o Sr. patriarca. As reparações fora da Igreja são muito difíceis, só o Estado é que é parecido, como aconteceu no caso Casa Pia, em que se decidiu compensar de alguma forma as vítimas”.
Miranda Sarmento admite indemnizações a vítimas de abusos
Mais do que indeminizações, o país precisa de ter uma resposta integrada que previna e combata os abusos sexuais. A ideia é defendida pelo líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, que, apesar disso, não exclui a possibilidade de pagamento de indemnizações às vítimas.
“É preciso uma resposta integrada que garanta que, no futuro, estas situações já não ocorram ou, pelo menos, que se faz tudo o que é possível para prevenir que adultos possam cometer esse tipo de abusos sobre crianças mais desprotegidas e vulneráveis”, disse à Renascença o social-democrata, à margem da conferência “Portugal: Um país condenado a ser pobre?”, que decorre esta quarta-feira em Vila Nova de Gaia.
Miranda Sarmento pede, para as “situações que já ocorreram”, “uma resposta de apoio a nível psicológico, ao nível da integração na sociedade e, eventualmente, também ao nível de indemnizações financeiras”.
Para o líder da bancada social-democrata Portugal ainda tem muito a melhorar neste campo.
“O país ainda tem muitos passos para dar nessa matéria. É importante aprender com aquilo que aconteceu, com os erros que foram sendo cometidos no ponto de vista de não saber proteger estas crianças e, portanto, o país ainda tem muita coisa para melhorar nesse campo, infelizmente”, lamenta Miranda Sarmento, no dia em que o Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério defendeu, em entrevista à Renascença, a indemnização de todas as vítimas de abusos sexuais, dentro e fora da Igreja.
[notícia atualizada às 15h22]