A assistência clínica a consumidores de estupefacientes tem sido dificultada pelo desconhecimento sobre misturas e surgimento de novas substâncias.
Em declarações à SIC Notícias este domingo de manhã, João Goulão, diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) realça que muitos dos estupefacientes consumidos são "associados" a outras substâncias, "com consequências perfeitamente inesperadas e desconhecidas em muitos casos".
"Mesmo aquilo que constitui o recurso a serviços de urgência para mitigar os efeitos dessas substâncias muitas das vezes esbarra no próprio desconhecimento acerca da substância que foi consumida."
João Goulão também admite que as complicações na assistência clínica ao consumidores de estupefacientes consumidos também resulta de uma "incapacidade da parte dos médicos que atendem, de não conhecerem exatamente as substâncias".
"Trata-se de fazer suporte de vida, [de] lidar com a situação aguda, mas dificilmente se terá uma intervenção mais consequente."
O diretor-geral do SICAD nota ainda que a toxicodependência é um desafio que não está fechado, apesar dos bons resultados portugueses, que colocam o país nos melhores rankings europeus. Ainda esta sexta-feira, João Goulão alertou que "nunca se assistiu como agora a tanta disponibilidade de drogas" e que Portugal segue as tendências internacionais de consumos.
Segundo o "Relatório Europeu sobre Drogas 2023: Tendências e Evoluções", divulgado pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, a canábis e produtos derivados são as substâncias psicoativas mais consumidas em Portugal, seguidos pelos estimulantes, como a cocaína.
À Lusa, João Goulão reforçou que Portugal tem conseguido adaptar recursos à medida dos diferentes desafios e destacou o facto de, em termos legislativos, o país ter descriminalizado o uso de drogas, o que colocou Portugal "na vanguarda da abordagem destes temas" e teve "um impacto muito positivo na eficácia do dispositivo montado".