A Congregação Geral, assim se designa, é o órgão máximo de governo da Companhia de Jesus, mas em 476 anos de história só se reuniu 35 vezes. “Acontece apenas quando é necessária”, explica o padre Manuel Morujão, que participou nas duas últimas que elegeram Superiores Gerais, em 1983 e em 2008, e na que decorreu em 1995. “As constituições dizem que há muito a fazer na missão e que não vamos travar a missão da Companhia de Jesus na Igreja e no mundo por casa de uma reunião. Aliás desde 1540, quando a Companhia de Jesus foi fundada, houve apenas 36 congregações gerais, incluindo esta. Portanto, a periodicidade é muito rara”.
O encontro foi convocado pelo actual Superior Geral, padre Adolfo Nicolás. Eleito em 2008, tem agora 80 anos e apresentou a renúncia por entender que os tempos mudaram e que é preciso “ousadia, imaginação e coragem” para fazer frente à nova missão. O padre Manuel Morujão recorda que a decisão não é inédita: “o primeiro Superior geral que pediu a sua demissão, e estava ainda com saúde, foi o anterior, o padre Peter Hans Kolvenbach, que sucedeu ao padre Pedro Arrupe, em 83. Porque a missão exige muito. Recordo-me que nessa altura até pensámos ‘qualquer dia isto acontece com o outro cargo vitalício que há na Igreja, o do Papa, poderá apresentar também ele a sua resignação’. E foi isso que aconteceu”.
“Hoje há novos desafios, o ritmo de vida actual é muito exigente, por isso, mesmo quando se está ainda com saúde, como acontece com o padre Nicolás, pode achar-se oportuno, que é um bem para a Igreja e para o mundo que se peça a renúncia”, diz o padre Morujão. Não é, por isso, por acaso que o logótipo desta Congregação Geral inclui a frase “remando mar adentro”, dita pelo Papa aos jesuítas, em 2014, em jeito de desafio. “É não ficar no lugar mais seguro para um barco, que é o porto. Um barco foi feito para navegar e há os riscos da navegação, as ondas e até possíveis tempestades. Mas, há que percorrer caminho, aventurar-se pelo mar adentro. E neste sentido a Companhia de Jesus e toda a Igreja não pode viver sob o medo dos perigos do mar que atravessa”.
É imprevisível quem será o novo Superior Geral, mas a idade não será um critério: “o anterior, o padre Kolvenbach, foi eleito com 55 anos, o actual, o padre Nicolas, tinha 72. Há estas alternâncias”, diz Manuel Morujão, que explica ainda que as votações são precedidas pelas chamadas “murmurações”: “vem de ‘murmúrio’, um falar baixinho, confidencial, em que há uma regra - cada um deve pedir as informações que precisa para saber em quem deve votar, mas ninguém pode dar espontaneamente informações, ou seja, eu não posso ir dizer a este ou aquele congregado que fulano de tal é excelente para Geral, ou que não se vote em tal pessoa. Isso seria campanha eleitoral, que é algo vetado. Mas é uma regra sábia pedir as informações a quem achar oportuno pedir, sobre este ou sobre aquele, e estar disponível para oferecer também informações, daquilo que eu sei”.
O novo Superior Geral é eleito por maioria simples (50% dos votos + 1), mas o escolhido é obrigado a aceitar o cargo, o que tem uma explicação: “na primeira Congregação Geral, quando foi eleito Santo Inácio de Loyola, ele não queria aceitar. Pediu um tempo, houve depois uma nova votação e teve outra vez todos os votos menos o seu. Para evitar isso agora está nas Constituições que deve aceitar”.
A Companhia de Jesus é a ordem religiosa mais numerosa de sacerdotes e irmãos da Igreja Católica. Nesta Congregação Geral em Roma participam jesuítas do mundo inteiro – 215, de 62 países. Representam cada uma das Províncias, segundo a percentagem dos membros que têm. Pela Província portuguesa, que tem 160 membros, estará o Provincial, padre José Frazão Correia, de 46 anos, e o padre Miguel Almeida, que actualmente acompanha, em Braga, os jesuítas mais novos na segunda etapa da sua formação. A duração do encontro é imprevisível, mas o padre Morujão acredita que “até 20 de Outubro haverá um novo Superior Geral”.