Os crimes de abuso e exploração sexual de crianças e jovens têm cada vez mais expressão na Internet, alerta a gestora da rede CARE - um projeto criado pela Associação de Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que presta acompanhamento especializado a estes menores.
“Aquilo que vemos online são situações de aliciamento, de envio e visionamento de conteúdos, de pornografia de menores, mas também a produção de conteúdos por parte das vítimas, no âmbito daquilo que esperam ser uma relação de intimidade ou amizade. Em alguns casos estão a ser alvo de coação ou de ameaça”, diz Carla Ferreira, nesta sexta-feira, 18 de novembro, em que se assinala o Dia Europeu para a Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual. “Algumas situações têm as duas componentes, quando, por exemplo, uma situação de aliciamento leva à prática de um ato offline em que há contacto físico.”
Até ao fim de 2021, a rede CARE apoiou 2.107 crianças e jovens, a maioria das quais do sexo feminino. “É um fenómeno transversal aos vários estratos socioeconómicos”, diz a responsável, explicando que, ainda que haja um crescimento das situações online, a maioria dos casos continua a acontecer dentro da família.
Os pedidos de ajuda, diz a assessora técnica da APAV, surgem por várias razões. “Temos vítimas que, com o crescimento, percebem que o comportamento tido contra si não é normativo e deve ser revelado. Outras recorrem a nós logo após a prática do crime, sobretudo nas situações de violência pontual mais gravosa”, afirma, acrescentando que também há denúncias feitas por terceiros e frisando que “o pedido de ajuda é um passo muito importante”.
Um apoio integral
Todos os dias, desde 2016, ano em que a rede CARE foi criada, a APAV abre um novo processo de apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual. Um acompanhamento que não se cinge à dimensão psicológica.
“A lógica é ter uma equipa de referência que acompanha a situação no seu todo”, explica Carla Ferreira. “Temos situações que nos chegam, por exemplo, sem denúncia e ajudamos a pessoas [nesse âmbito]. Também acionamos outras respostas de apoio social, psicológico, etc.”
Quando as vítimas não são acompanhadas, o impacto pode manifestar-se a vários níveis. Algumas desenvolvem traumas e muitas não conseguem distinguir o que é abusivo numa relação, explica a gestora da rede CARE, acrescentando que há também quem se isole e quem evite atividades que até então eram prazerosas.
“Não se pretende que a situação seja esquecida. Pretende-se sim que seja integrada na vida, no desenvolvimento daquela criança, daquele jovem.”
A PJ revelou ter recebido quase 15 mil inquéritos relacionados com a criminalidade sexual contra crianças e jovens nos últimos cinco anos, revelou aquela polícia alertando para esta problemática "continua a ocorrer em dimensões significativas".