O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, classifica como "uma excelente notícia" o anúncio de um princípio de acordo para um cessar-fogo na Síria.
"Qualquer avanço, qualquer negociação que venha a ocorrer entre os principais actores do conflito - e quando digo principais actores não digo ponto de vista da responsabilidade, mas da intervenção política e até militar decisiva em que estão envolvidos, como os Estados Unidos e a Rússia - é sempre um excelente notícia", diz Azeredo Lopes, em entrevista à Renascença.
"É sempre possível negociar", sublinha o ministro da Defesa, alertando para o facto de, no quadro de qualquer conflito, ser "crucial manterem-se pontes para um diálogo, mesmo entre adversários".
Sobre o facto de o autoproclamado Estado Islâmico (ou Daesh) estar ausente do acordo, o ministro da Defesa recorda a impossibilidade de negociar com terroristas: "Não vejo como seja possível, racionalmente, negociar com uma entidade que faz da morte e que faz da violência brutal um instrumento fundamental da sua actuação, mas, evidentemente, além do Estado Islâmico, na Síria, verifica-se um envolvimento e uma pluralidade de estados que, por razões mais ou por razões menos aceitáveis - sendo as mais aceitáveis o combate, também ele militar, contra o Daesh e as razões menos aceitáveis a defesa de partes que são responsáveis, em grande medida, pela violência que actualmente existe na Síria."
Azeredo Lopes não esconde algum optimismo face à possibilidade de progressos, porque, "do ponto de vista político, este é um avanço muitíssimo significativo" e, por outro lado, porque "o Estado Islâmico não está a avançar, neste momento. Está a recuar, em termos operacionais, tanto na Síria como no Iraque".
O papel de Portugal
Sobre a posição de Portugal no conflito e no esforço de resolução, o ministro da Defesa sustenta que o país "tem um papel permanente e actuante, quer como membro da União Europeia, quer como membro de outras organizações internacionais, que, directa ou indirectamente, estão ou têm um papel a desempenhar na região ou um papel a desempenhar contra o terrorismo bárbaro do Daesh".
"Portugal tem assumido, quer do ponto de vista da sua presença em forças nacionais destacadas quer pela sua actuação política e a outros níveis, através da sua política externa, um apoio constante ao encontro de uma solução política negociada para o conflito sírio e, portanto, este passo que muitos consideravam absolutamente impossível - recordo que muitos olhavam para a Rússia, pura e simplesmente, como um Estado inimigo - demonstra que era possível a principal potência, que são os Estados Unidos, conseguir falar e negociar com a Rússia", acrescenta Azeredo Lopes.
"Estamos perante um conflito de vários anos e um dos conflitos seguramente mais terríveis deste século XXI, que já representou centenas de milhares de mortos, que já representou milhões de refugiados e de deslocados internos e que representa, com certeza, como aliás tem sido acentuado pelo alto comissário para os refugiados António Guterres, uma catástrofe humanitária das mais graves que nós conhecemos nos últimos anos", remata o ministro da Defesa.