O novo ministro britânico das Finanças, Jeremy Hunt, anunciou esta segunda-feira que o Governo vai abandonar "quase todos" os planos que tinha de cortes nos impostos, em mais um revés para a primeira-ministra, Liz Truss.
Numa antecipada comunicação ao país, na tentativa de acalmar os mercados financeiros, o chanceler do Tesouro anunciou que "quase todos" os cortes de impostos que tinham sido anunciados por Truss no mês passado serão abandonados, incluindo o plano de reduzir a taxa mínima de IRS abaixo dos 20% já no próximo ano.
Hunt adiantou que estão a ser ultimados cortes na despesa pública para fazer face à inflação. Já tendo em conta a atual crise energética, agravada pela guerra na Ucrânia, o ministro disse que o teto máximo ao preço da eletricidade para ajudar as famílias a pagar a fatura ao final do mês será revisto já em abril, em vez de durar dois anos como inicialmente previsto.
As medidas hoje anunciadas por Hunt marcam um duro golpe para Truss, que a 23 de setembro tinha anunciado cortes fiscais avaliados em 45 mil milhões de libras -- um pacote que assustou os mercados e levou à desvalorização da libra esterlina, forçando o Banco de Inglaterra a intervir de emergência.
Na sequência disto, na sexta-feira a primeira-ministra despediu o ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, substituindo-o por Hunt. O novo responsável deverá anunciar um plano de fiscal de médio prazo até ao final de outubro.
PM sob pressão para se demitir
Liz Truss está sob crescente pressão, com cada vez mais elementos do Partido Conservador a exigirem que abandone o cargo. Há até deputados conservadores que dizem que, face à sua fragilidade política, Hunt é agora "o verdadeiro chefe do Governo", indica a BBC.
Três deputados conservadores -- Crispin Blunt, Andrew Bridgen e Jamie Walls -- já exigiram publicamente que Truss se demita, havendo vários outros a manifestar o mesmo desejo em privado.
"Está feito, não temos como ganhar", disse à BBC um membro do Governo de Truss que considera que o Partido Conservador vai sofrer grandes perdas nas próximas eleições gerais.
Ao longo do fim de semana, vários conservadores manifestaram o mesmo receio; alguns dizem acreditar que o Governo de Truss "está por semanas ou mesmo dias".
Sob as atuais regras do Partido Conservador, a primeira-ministra não pode ser alvo de moções de não-confiança pelos membros do seu partido durante o primeiro ano à frente do Governo. Estas regras, definidas pelo chamado comité 1922, podem ser alteradas; contudo, fontes asseguram o partido está mais investido em ver Truss demitir-se por sua própria iniciativa do que em forçar a sua saída.
Se Truss cair, quem pode substituí-la?
Alguns deputados conservadores já sugeriram que seja apresentado apenas um candidato à liderança do partido -- e, por conseguinte, do Governo britânico -- o que permitiria uma votação rápida em poucos dias para substituir Truss.
Os três nomes mais citados para a sucessão são o de Ben Wallace, ministro da Defesa, Penny Mordaunt, líder da Câmara dos Comuns, e Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças, que foi derrotado por Truss na ronda final das eleições internas deste verão, na sequência da demissão de Boris Johnson.