João Dias foi deputado do PCP até às legislativas de 2024, altura em que os comunistas perderam o deputado que tinha eleito pelo círculo de Beja. O alentejano voltou à sua atividade profissional de enfermeiro, mas as saudades da política e a escolha do partido vão levá-lo a disputar as eleições autárquicas do próximo ano como candidato a Serpa, concelho historicamente comunista (desde 1976, primeiras autárquicas em democracia).
Oiça aqui a entrevista ao ex-deputado João Dias. Também pode ler a entrevista em texto mais abaixo.
Vai ser candidato pelo Partido Comunista à autarquia de Serpa, uma autarquia historicamente comunista. É uma pressão acrescida, uma vez que o PCP tem vindo a perder expressão eleitoral em vários pontos?
A pressão que eu sinto é de corresponder àquilo que é a expectativa da população, aos seus anseios, e às dificuldades por que passam. Encaro esta candidatura com muita naturalidade. Sou de Serpa, conheço aquelas gentes, aquelas terras, também me conhecem a mim. A pressão que eu sinto é a pressão de que os problemas locais devem ser resolvidos. é tradicionalmente uma terra em que as pessoas têm orgulho de ser de Serpa e é esse orgulho que eu quero cultivar e incentivar mais.
No Alentejo, tem havido um crescimento exponencial do Chega, teme que isso possa atrapalhar a sua candidatura e eventualmente possa impedir o PCP de renovar o mandato na Câmara Municipal de Serpa?
O que me preocupa é o projeto e o que vou ouvir junto da população. Eu temo que nos falte muitas das vezes o que é mais importante, que é o financiamento para concretizar o projeto, não podemos não concretizar por falta de projeto. A nossa candidatura é conhecida, por isso não temo nada das outras forças políticas, tenho muita confiança na candidatura da CDU. Naturalmente que nem tudo correu bem nos sucessivos mandatos da CDU, temos que identificar onde não correu bem, corrigi-los e avançar para melhorar. A CDU tem um histórico e é esse histórico que nos dá algum conforto, mas não nos dá descanso.
O João Dias é alentejano e conhece bem a região, é uma das regiões onde o Chega, como dizia, tem crescido mais, encontra alguma explicação para isso?
A explicação que eu encontro é que quanto pior as pessoas estiverem, quanto pior a sua condição de vida estiver, pior as pessoas avaliam as causas dessa situação por que passam e quanto pior avaliam, pior escolhem, pior decidem. Essa é a razão pela qual nós provavelmente temos assistido a um crescimento da extrema-direita, por isso mesmo é que nós devemos corresponder resolvendo os problemas que estão na base das dificuldades.
A população do Alentejo é uma população com sensibilidade política e social, é evidente que quando as suas condições de vida se degradam isso abre portas para ruins escolhas, para más escolhas, por isso é que nós queremos elevar as condições de vida da população.
O secretário-geral do partido já disse que um dos objetivos é manter as câmaras que tem e se puder aumentar. No Alentejo é possível que isso aconteça?
Claro que nós temos essa confiança de que vamos recuperar câmaras, nas últimas autárquicas estiveram por escassas dezenas de votos, falo do caso de Moura e do caso de Aljustrel, em que por cerca de 80 votos não foi possível recuperar. Também o caso da Câmara de Beja, até considerando por aquilo que tem sido o trabalho do executivo PS neste momento, a população provavelmente estará a fazer uma avaliação em que poderá desejar mudar.