Início da vacinação Covid-19. “Sinto-me como o primeiro homem na Lua”
27-12-2020 - 16:26
 • Ana Carrilho

Dezenas de profissionais de saúde do Centro Hospitalar Lisboa Norte começaram a ser vacinados contra o novo coronavírus, uma luz ao fundo do túnel depois de meses a lutar contra um inimigo invisível. “A adesão enormíssima revela que as pessoas têm consciência da importância da vacinação", afirma o administrador.

Nos próximos três dias, 1.610 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e assistentes operacionais, do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) vão ser vacinados contra a Covid-19. Primeiro, os que estão “na linha da frente”.

Quase todos disseram que querem receber a vacina. “Estamos todos cansados desta pandemia. É uma luz ao fundo do túnel”, desabafa uma médica, enquanto uma enfermeira diz sentir-se “como o primeiro homem na Lua”.

“De máscara, mas com distanciamento, está bem?”, vai avisando simpaticamente a enfermeira-diretora Ana Paula Fernandes, que vê tanta gente e tantas câmaras, microfones e comunicação social para testemunhar as primeiras vacinações que serão feitas dentro de minutos, sob os holofotes.

São algumas dezenas de médicos e enfermeiros, mas também assistentes operacionais, “os nossos braços direitos, sublinha Ana Paula Fernandes, que esperam a sua vez. Ainda não são 10h30, a “hora mediática” para o início da operação.

Por enquanto, de caneta na mão, preenchem o questionário clínico. Fazem parte do “lote” de 1.610 que vão ser vacinados até terça-feira, nesta primeira fase de vacinação.

As contas estão feitas. Salvaguardando alguns percalços. Neste domingo deverão ser vacinadas 430 pessoas e, na segunda e terça-feira, 640 em cada dia. Numa maratona diária de dez horas, das 8h00 às 18h00.

Nesta primeira fase são vacinados profissionais das áreas mais expostas, nomeadamente das Urgências Central, Pediátrica e Obstétrica, Medicina COVID e não COVID e Cuidados Intensivos.

“A adesão foi enorme, mais de 90%”, referem com satisfação a enfermeira Ana Paula Fernandes e o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que compreende os Hospitais de Santa Maria e Pulido Valente. Daniel Ferro salienta que é um ato de adesão voluntário, mas também de cidadania.

“A adesão enormíssima revela que as pessoas têm consciência da importância da vacinação. Seja na primeira ou não segunda fase, o importante é vacinar”, sublinha o administrador.


Vacina não significa ausência de regras

O processo de vacinação obedece a um regime de grande controlo e segurança. Tanto na chegada à farmácia hospitalar, onde as vacinas são preparadas, como no percurso até ao local onde são administradas, no 9.º andar do edifício central do Hospital de Santa Maria. Um espaço que foi adaptado, com receção específica, oito gabinetes de vacinação e uma sala de repouso, onde todas as pessoas ficam cerca meia hora despois de serem vacinadas, para salvaguardar qualquer reação adversa.

“Não deverá acontecer, mas estamos preparados”, garante Daniel Ferro. Frisa que é justo que estes profissionais se sintam mais protegidos. Ainda assim, alerta que “a vacina não significa ausência de regras. Significa que estamos mais protegidos até que a sociedade fique imunizada. Até lá, temos de manter comportamentos, atitudes e regras de segurança, individuais e institucionais”.


A luz ao fundo do túnel

“Sinto-me quase como se fosse o primeiro homem a pisar a Lua, começar a vacinação é um grande feito”, revela com entusiasmo a enfermeira Sónia Frias - um dos 70 profissionais envolvidos em todo o processo de vacinação no CHLN - depois de dar a primeira vacina à médica cardiologista Manuela Fiúza.

Por sua vez, a médica, enquanto se dirigia à Sala de Descanso, afirmou à Renascença que aderiu de imediato: “não temos alternativa, se queremos despachar estas máscaras e estas regras todas. As pessoas querem ser vacinadas e cá estamos na linha da frente!”

Meia hora depois saiu “só com uma dorzinha no braço, normal depois de uma vacina”, e foi “à (sua) vida, aproveitar o domingo, que amanhã é dia de trabalho”.

Também Susana Brás, diretora do Serviço de Medicina COVID se dirigiu, ligeira, ao elevador e a revelar um “não doeu nada”. Tal como a sua colega, hoje não está de serviço. Mas faz questão de frisar que não é o caso de muitos dos profissionais que ali estão: “levam a vacina, descansam e depois voltam ao seu trabalho”.

Mas sobretudo, esta médica que tão de perto tem lidado com os doentes covid, quer realçar o sentimento de felicidade que sente; ela e os outros. “Estamos todos cansados desta pandemia, a vacina é uma luz ao fundo túnel”.

O presidente do CHLN ainda não sabe como serão distribuídas as próximas tranches da vacina que vão chegar a Portugal. Mas espera que nas próximas semanas todos (ou quase todos) os mais de seis mil profissionais de saúde que dirige sejam vacinados contra a Covid-19.

Também Daniel Ferro ou a enfermeira Ana Paula Fernandes terão de esperar por uma próxima fase. Quanto aos que recebem a vacina agora, voltam daqui a três semanas, para a segunda dose.