A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, disse, esta sexta-feira, no parlamento, que não se demite, em resultado das conclusões da Comissão Técnica Independente que analisou as circunstâncias que envolveram o incêndio de Pedrógão Grande, em 17 e 18 de Junho.
"Não, não me demito", disse, logo na sua primeira intervenção, Constança Urbano de Sousa, em resposta a uma intervenção do líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães.
A ministra foi chamada para um debate de urgência pedido do maior partido da oposição, decisão cuja seriedade Constança Urbano de Sousa questionou: “Debater
um relatório com esta dimensão, com esta profundidade e com esta complexidade
menos de 24 horas depois de ser conhecido não pode ser um debate sério.”
Para a ministra da Administração Interna, o debate em curso nesta sexta-feira representa "um desrespeito" perante a Comissão Técnica Independente e perante "os deputados que marcaram para dia 27 um debate sobre esta matéria".
"Não vou tirar conclusões de um relatório que, repito, ninguém teve a oportunidade nem o tempo de analisar com seriedade e cuidado", reforçou.
PSD quer desculpas, CDS quer saída da ministra
O PSD pediu por várias vezes que o Governo peça desculpas aos portugueses sobre o que aconteceu em Pedrógão Grande. Para o deputado Luís Marques Guedes, o relatório é o primeiro ato de justiça para as famílias das vítimas e não dá espaço “para adiar ou fugir à assumpção de responsabilidades”.
“O Estado falhou” e cabe ao primeiro-ministro “pedir desculpa em nome do Estado”, disse Marques Guedes, acrescentando que o PSD vai pedir a avocação em plenário de artigos da lei de compensação das vítimas que foram chumbados em comissão especializada.
Outro deputado do PSD, Carlos Abreu Amorim, pediu também a Constança Urbano de Sousa que assuma “as suas responsabilidades políticas”, considerando que “mudanças em mais de dois terços da Protecção Civil” fizeram ruir a instituição.
Abreu Amorim acusou ainda a ministra de tomar "uma atitude indecorosa" ao recusar a assumpção de responsabilidades.
Para o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, o relatório evidencia que tragédia resultou de incompetência. “A começar pela sua, senhora ministra”, disse, acrescentando que demitir o presidente da Protecção Civil não chega e o CDS-PP "não vai deixar que chegue".
Do lado da coligação parlamentar que sustenta o Executivo, Fernando Rocha Andrade, pelo PS, disse ser manifesto que houve falhas operacionais, mas lamentou que a “única preocupação do PSD” é “que alguém seja colocado no pelourinho”.
Sandra Cunha, do Bloco de Esquerda, António Filipe, pelo PCP, e Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista "Os Verdes", tiveram discurso similar, coincidindo na ideia de que é cedo para tirar conclusões de um relatório que foi apresentado há menos de um dia.
O relatório foi entregue na quinta-feira na Assembleia da República e analisa os fogos ocorridos entre 17 e 24 de Junho nos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Penela, Oleiros, Sertã, Góis e Pampilhosa da Serra. O incêndio deflagrou em Pedrógão Grande, tendo alastrado a vários municípios vizinhos e provocado 64 mortos e mais de 200 feridos.
[notícia actualizada às 13h05, com posições de PSD, PS, BE, PCP e PEV]