O Presidente J. Biden desloca-se na próxima semana à Europa, mais precisamente a Bruxelas, para participar numa reunião da NATO. É mais um indicador do empenho que a Casa Branca tem vindo a demonstrar quanto à unidade das democracias na resposta à invasão da Ucrânia.
Com uma visão geoestratégica muito diferente do isolacionismo de Trump, Joe Biden não manifestou grande cuidado no primeiro ano do seu mandato em coordenar as suas posições com os aliados europeus. Na desastrada retirada militar do Afeganistão Washington não avisou previamente os europeus quanto aos moldes da retirada. Mais tarde, Biden esqueceu-se, ou não quis, informar a França de que os EUA iriam fornecer à Austrália submarinos movidos a energia nuclear, inviabilizando a prevista venda de submarinos franceses aos australianos.
A crise da Ucrânia mudou tudo. Biden e os seus ministros e conselheiros têm-se desdobrado em esforços de harmonização de posições com os aliados da NATO. E Washington tem diariamente partilhado informação com os europeus sobre a invasão russa da Ucrânia.
Dir-se-ia que a Casa Branca percebeu que esta crise dá uma oportunidade ao Presidente e aos políticos do partido democrático para finalmente mostrarem um bom trabalho. E assim terem melhores perspectivas quanto às eleições intercalares de novembro próximo; até há um mês as sondagens eram desfavoráveis aos democráticos.
Antes da crise na Ucrânia Trump e vários dos seus apaniguados multiplicavam-se em palavras simpáticas para Putin, que consideravam, se não um génio, pelo menos um bom político. Ora a invasão em curso na Ucrânia transmite uma péssima imagem de Putin. A opinião pública dos EUA, como a de muitos outros países, passou a detestar Putin, que se tornou aos olhos de muita gente um político odioso.
Para esta mudança de imagem contribuiu muito o facto de esta guerra ser vista quase em direto nas televisões. Exceto na Rússia, claro, o público assiste, chocado, aos terríveis bombardeamentos que destroem prédios de habitação, hospitais, maternidades, escolas e matam milhares de civis, incluindo crianças. É uma invasão tremendamente impopular, o que tem colocado em dificuldade os políticos americanos e europeus de extrema-direita, em regra próximos de Putin.
O Presidente Macron encontra-se agora mais perto de uma vitória eleitoral em abril, pois as sondagens tornaram-se desfavoráveis para os dois candidatos de extrema-direita, Marine Le Pen e Éric Zemmour. Além de que os esforços diplomáticos de Macron na crise ucraniana, se bem que pouco frutíferos, são apreciados pelos franceses. E J. Biden encontrou aqui uma inesperada possibilidade de salvar a sua presidência, que parecia não levantar voo.