O secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, diz, em entrevista à Renascença, que a sua preocupação central, no futebol, não é com "dirigentes que ganham dezenas de milhares de euros por mês", mas "com aqueles dirigentes benévolos de clubes locais (...) que entregam, todos os dias, generosamente um contributo à sociedade".
"Eu estou fundamentalmente preocupado é com os clubes de base local. Quando esta pandemia terminar, e ela vai terminar, têm de lá estar para acolher as dezenas de pessoas, nas freguesias mais recônditas, no interior do país, onde o clube representa a esperança de 15/20 crianças de terem prática desportiva. Não me preocupo tanto, lamento, com os dirigentes que ganham dezenas de milhares de euros por mês", sublinha.
Na sequência das críticas de Pinto da Costa sobre a inação do Governo, e em particular do secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, sem querer responder diretamente ao presidente do FC Porto, por entender reagir, comentar ou entrar em diálogo "não ajuda", ressalva que o Governo tem feito a sua parte.
Após o Braga-FC Porto, na quarta-feira, Pinto da Costa apelou para que cessassem as provocações aos adeptos portistas, após apresentar um rol de decisões de arbitragem que, na sua ótica, prejudicaram o clube. Nessas declarações, o dirigente não pediu a intervenção do Governo, por considerar que não há responsável pela pasta do Desporto. "Sei que neste país não temos secretário de Estado do Desporto porque morreu. Não foi enterrado mas está morto ou desertou", disse.
"Estamos todos mortos é para sair da pandemia"
João Paulo Rebelo recusa responder e reforça que está "estou em contacto permanente com a Federação, com a Liga e com os mais diversos agentes".
"Temos feito a nossa parte. Queremos que todos possam fazer o mesmo. Precisamos mesmo de estar juntos para passar este momento particularmente difícil. Estamos todos mortos é para sair dela [da pandemia]", observa.
Os efeitos da pandemia de Covid-19 no desporto e na prática desportiva estão no topo das prioridades do Governo, anota o secretário de Estado, detalhando, nesta entrevista à Renascença, os vários dos dossiês a que se tem dedicado nos últimos tempos.
Relativamente ao futebol profissional, o regresso do público aos estádios, "o mais rápido possível" e a centralização dos direitos televisivos estão na mesa de trabalho do Governo.
"Garantir a obrigatoriedade da centralização dos direitos televisivos, como recentemente anunciei, vai ser revolucionária para o futebol português e para a competitividade do nosso campeonato. Uma intervenção decisiva e que vai ajudar para que tenhamos um futebol profissional do qual cada vez mais nos possamos orgulhar", afirma.
A Liga e a Federação Portuguesa de Futebol informaram, recentemente, que criaram uma sociedade para gerir a centralização dos direitos. A previsão é que a transformação esteja concluída na época 2027/28.
A maior resistência a essa mudança será dos clubes que têm maiores contratos com as operadores, nomeadamente, Benfica, FC Porto e Sporting.
À margem do futebol profissional, João Paulo Rebelo destaca outras prioridades na agenda do Governo, condicionada pela pandemia.
"A minha preocupação é, particularmente, com os jovens que estão sem praticar desporto há muito tempo. Garantir que os sucessivos decretos dos estados de emergência permitam a atividade física aos cidadãos", observa.
Outra realidade a que está atento é à dos atletas olímpicos a paralímpicos, que "estão a passar por um momento devastador, porque estão em suspenso há um ano".
Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, devido à pandemia de Covid-19, foram adiados para 2021. O evento, garante o comité organizador, vai realizar-se nas datas previstas, entre finais de julho e início de agosto, mas subsistem muitas dúvidas sobre como irão decorrer.
Além disso, a preparação dos atletas foi muito condicionada pelas restrições decorrentes da necessidade de contenção da propagação do novo coronavírus.