INEM em Lisboa vai continuar com défice de técnicos apesar do concurso para 200 vagas
21-11-2024 - 11:17
 • Manuela Pires

A Assembleia da República está a ouvir ao longo de todo o dia, os representantes dos trabalhadores, duas associações, o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar e o Presidente do INEM.

Há um desinvestimento crónico ao longo dos últimos dez anos, falta de médicos, carreiras que não são atrativas, falta de condições de trabalho, horas extraordinárias que ficam por pagar e falta de equipamentos.

O diagnóstico é feito pelo coordenador da comissão de trabalhadores do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Rui Gonçalves, na comissão parlamentar de Saúde que esta quinta-feira vai ouvir mais duas associações de trabalhadores do INEM, o sindicato dos técnicos e o presidente do organismo.

Rui Gonçalves diz que nos últimos três anos o INEM perdeu 75 técnicos porque as carreiras não são atrativas. A falta de recursos humanos leva a um aumento de horas extraordinárias e, por último, falta de uma revisão salarial.

O coordenador da comissão de trabalhadores revelou que o concurso para a entrada de 200 novos técnicos vai ser preenchido, mas avisou que a região de Lisboa vai continuar com um défice de profissionais.

“Temos a excelente expetativa de que as 200 vagas vão ficar preenchidas e vamos ficar com bolsa de recrutamento. Isso é importante, mas também é importante dizer que o número de candidatos para Lisboa está abaixo das expectativas. Vamos conseguir ter a delegação do Norte, de Coimbra e, provavelmente, do Algarve mais capacitadas, mas em Lisboa continua a haver um défice."

Na audição desta quinta-feira, Rui Gonçalves referiu que a refundação do INEM tem de passar pelo reconhecimento dos seus profissionais e pelo cumprimento da promessa do primeiro-ministro de não retirar dinheiro ao instituto. Em causa estão 135 milhões de euros que, diz Rui Gonçalves, é o orçamento do INEM para um ano.

“Imaginem o que é em vossas casas terem, de repente, um ano subtraído ao vosso orçamento. Isto implica que é impossível conseguirmos investir, apesar das tutelas não terem feito nada. Apesar do INEM ter esta subtração de 135 milhões de euros, a tutela poderia ter revisto a carreira, poderia ter revisto as previsões remuneratórias, poderia ter feito uma valoração salarial”, disse.

O responsável da comissão de trabalhadores foi questionado sobre as falhas ocorridas no dia 4 de novembro, quando se realizaram duas greves em simultâneo, atribuindo a responsabilidade ao “desinvestimento crónico” dos últimos anos.

“Teve um impacto maior no dia 4, mas isso aconteceu única e exclusivamente devido ao desinvestimento crónico que há no instituto. Cabe à IGAS, ao Ministério Público e ao inquérito que está a decorrer no INEM o apuramento de responsabilidades sobre o cumprimento dos serviços mínimos."

Para além de garantir a atratividade da carreira, de valorizar os recursos humanos, a comissão de trabalhadores defende que a refundação do INEM anunciada pela Ministra da saúde não pode deixar de lado a formação que o Instituto faz.

“Se essa refundação é, como também já disse, voltarmos à independência administrativa e financeira do Instituto, é esse o caminho. Se é deixarmos de fazer o transporte de doentes não emergentes, também é esse o caminho. Se a refundação passa também por voltar a dar ao INEM, ou dotar o INEM daquilo que são os recursos humanos essenciais à sua missão, que foi sendo alterada, foi sendo aumentada durante os últimos anos, é esse o caminho”, referiu.

A comissão de trabalhadores defende, assim, que a refundação do instituto deve passar por deixar de fazer transporte secundário, como transferências de utentes entre hospitais, serviço que desvia meios do socorro urgente.

O futuro deverá passar também por manter a formação. "Se me perguntarem se o caminho é deixarmos de dar formação, não, o INEM tem capacidade para dar essa formação”, enfatizou Rui Gonçalves.

Esta quinta-feira, a comissão parlamentar de saúde vai ouvir ainda a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica e o sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, a pedido do Chega.

O presidente do Conselho Diretivo do INEM é ouvido esta tarde a pedido do PS.