O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) considera “grave” e “preocupante” que falhas no sistema informático militar tenham estado na origem de uma quebra de segurança que permitiu extrair documentos classificados portugueses da NATO, entretanto encontrados à venda na “dark web”.
“É uma quebra na reserva e na confidencialidade de dados muito importantes, neste caso dados da NATO, que neste momento está envolvida numa ação de defesa não declarada em relação a uma guerra que está a ocorrer entre a Rússia e a Ucrânia. E, portanto, vejo com a maior das preocupações aquilo que se passou”, diz Jorge Bacelar Gouveia à Renascença.
O alerta para o ciberataque, adianta o "Diário de Notícias" esta quinta-feira, foi dado pelos serviços secretos norte-americanos, que avisaram o Governo português de um ataque “prolongado e sem precedentes” aos computadores do Estado-Maior General das Forças Armadas, das secretas militares e do Ministério da Defesa.
O aviso foi feito por intermédio da embaixada dos EUA em Lisboa, através de uma comunicação que terá sido feita diretamente ao primeiro-ministro, António Costa, em agosto passado, adianta o jornal.
A NATO terá, entretanto, exigido explicações ao Governo, algo "natural", na opinião do presidente do OSCOT, que cita a "responsabilidade" acrescida de Portugal "enquanto membro fundador da NATO".
O responsável também sublinha que é preciso perceber que cautelas foram tomadas pela Defesa para prevenir eventuais ciberataques como este que acabou por acontecer.
"Mesmo que tenha havido aqui uma vulnerabilidade informática, a verdade é que nós estávamos alertados para isso", destaca Bacelar Gouveia.
"Se os ataques informáticos agora se multiplicaram em larga escala em grandes empresas, era de esperar também que esses ataques chegassem às estruturas de segurança nacional e às estruturas de defesa."
Nesse contexto, "é preciso saber então que planos foram feitos e que cautelas é que foram tomadas, por parte das autoridades de defesa nacional, para prevenir uma coisa que estava escrito nas estrelas que iria acontecer.”
Bacelar Gouveia considera ainda estranho que a Polícia Judiciária (PJ) não tenha sido contactada sobre este caso, como é avançado pelo DN.
Contactado pela Renascença, o Estado-Maior General das Forças Armadas diz que está a analisar a divulgação da notícia e que, para já, não faz comentários ao caso. Já o Ministério da Defesa diz apenas que “todos os ciberataques são objeto de coordenação estreita entre as entidades que, em Portugal, são responsáveis pela cibersegurança”.
À Lusa, o gabinete do primeiro-ministro, que diz estar a acompanhar diretamente este caso, referiu que, para já, “nada mais tem a adiantar” face àquilo que transmitiu ao DN sobre este caso.
"O Governo pode garantir que o Ministério da Defesa Nacional e as Forças Armadas trabalham diariamente para que a credibilidade de Portugal, como membro fundador da Aliança Atlântica, permaneça intacta", referiu fonte do gabinete de António Costa. "A troca de informação entre aliados em matéria de segurança da Informação é permanente nos planos bilateral e multilateral."
Na mesma resposta enviada ao jornal, é adiantado:
“Sempre que existe uma suspeita de comprometimento de cibersegurança de redes de sistema de informação, a situação é extensamente analisada e são implementados todos os procedimentos que visem o reforço da sensibilização em cibersegurança e do correto manuseamento de informação para fazer face a novas tipologias de ameaça. Se, e quando, se confirma um comprometimento de segurança, a subsequente averiguação sobre se existiu responsabilidade disciplinar e/ou criminal automaticamente determina a adoção dos procedimentos adequados."