Hillary Clinton ganhou novo fôlego depois de ter conquistado sete dos onze estados disputados em primárias no Partido Democrata na chamada “Super Terça-Feira”. “As coisas estão bastante bem encaminhadas para Clinton, não arrumadas”, comenta Pedro Santana Lopes na Renascença.
O antigo primeiro-ministro assinala que a campanha da ex-primeira-dama "reforçou o seu apoio junto das comunidades que tradicionalmente apoiam os Clinton”, nomeadamente os hispânicos e a comunidade afro-americana.
Para António Vitorino esse é um factor-chave da vantagem de Clinton face a Bernie Sanders, candidato até aqui com maior apoio entre os jovens.
“A senhora Clinton tem alguma dificuldade em entrar no eleitorado jovem que é o forte apoio ao candidato Sanders. Mas, em contraste, Sanders tem muitas dificuldades em entrar nas minorias étnicas, designadamente os latinos e a comunidade afro-americana. Isso vai começar a pesar, vai ser cada vez mais evidente”, afirma o antigo ministro do PS no programa “Fora da Caixa”, da Renascença.
Vitorino assume que “é cada vez mais evidente que Hillary Clinton será a candidata dos democratas”. E depois? “ Depois terá que fazer um ‘lifting' para tentar conquistar o eleitorado jovem que apoiou Sanders nestas primárias, para poder consolidar uma vitória à escala nacional”, prevê o militante socialista que argumenta que o eleitorado democrata terá capacidade de fazer uma convergência, seja qual vai ser o candidato escolhido para barrar o caminho ao candidato republicano. As sondagens mostram que Hillary Clinton ou Bernie Sanders batem Donald Trump em qualquer cenário de combate para a Casa Branca.
Trump, o inimigo comum
Do lado republicano, Donald Trump venceu também em sete estados, mas não conseguiu evitar a vitória de Ted Cruz no Texas, estado onde se elegiam mais delegados na “Super Terça-Feira”.
Para António Vitorino é “embaraçante” reconhecer que Trump conseguiu ganhar em estados onde não era evidente à partida que o seu discurso fosse ganhar. “Conseguiu fazer um voto importante dos latinos que votam republicanos e até de outras comunidades minoritárias, como os asiáticos, o que é uma surpresa, fazendo ele um discurso muito xenófobo e muito racista”, complementa o antigo comissário europeu.
Por outro lado, observa Vitorino, nenhum dos outros candidatos foi suficientemente derrotado para desistir. “ Vamos estar até 15 de Março com esta dúvida se Marco Rubio tiver uma grande vitória na Florida. O vencedor passa a ficar com os delegados todos de cada estado. No campo republicano ainda há muito que jogar”, conclui Vitorino.
Já Santana Lopes diz “compreender” que Marco Rubio e Ted Cruz queiram tentar ainda "virar a situação”. O antigo primeiro-ministro diz que teria sido mais fácil se passasse a haver só um candidato contra Trump.
“Na minha opinião seria mais fácil com Marco Rubio, acho-o mais carismático. Ted Cruz é também muito dogmático e provavelmente acha que Trump é um perigoso progressista. Acho que Rubio era mais capaz de concitar o apoio do eleitorado central moderado. Rubio é alguém com algum carisma, mais capaz de criar uma onda. Não vou dizer que Cruz é uma Sarah Palin masculina, mas são sectores não muito distantes de 'Tea Party'. Rubio era o mais capaz de combater Clinton”, argumenta o antigo líder do PSD.
António Vitorino observa que os republicanos "têm maiores hipóteses de ganhar para o congresso dado que as minorias votam menos no Congresso. Quando se trata da escolha presidencial, as minorias são muito mais participativas. Portanto, os republicanos têm muito mais dificuldades”.
E um congresso ‘à moda antiga’ com contagem de votos de delegados e discursos a virar as primárias? “Pode ser que voltem as convenções em que um discurso sentido ajude ao resultado. Pode acontecer isso. Acho que não vai ficar decidido até lá. Talvez seja um desejo mas pode haver ali um bom confronto”, conclui Santana Lopes.