E se ir para o jardim ajudar a travar a evolução das demências e da doença de Alzheimer em particular? Fazer exercício, tratar da horta, sentir os cheiros das flores, a textura das árvores, recordar tempos antigos.
Sair de casa para espaços de relaxamento é uma terapia com resultados para os doentes. Então, porque não criar jardins terapêuticos? Foi a ideia que Karin Palmlof apresentou no primeiro dia de trabalhos da Conferência Mundial de Alzheimer, que decorre até sexta-feira na Fundação Champalimaud, em Lisboa, em parceria com a Fundação Rainha Sofia, de Espanha. Os dois primeiros parques públicos foram recentemente inaugurados em Madrid.
Karin Palmlof nasceu na Suécia e é arquitecta paisagista. Há 16 anos começou a desenhar espaços exteriores para pessoas com incapacidade e demência. Seguiu uma ideia da Universidade de Agricultura da Suécia e criou os jardins terapêuticos.
Os últimos projectos são jardins especiais, parques públicos de Madrid, onde todas as pessoas e de todas as gerações podem entrar gratuitamente. Mas que também são desafios diários e sempre diferentes para os doentes com demência em fase inicial.
Em entrevista à Renascença, Karin Palmlof explica que estes parques, com cerca de 1.200 m2 estão divididos em quatro zonas. Numa delas é possível fazer exercício físico de diferentes níveis (desde fazer um percurso agarrado a uma corda de apoio a exercícios mais exigentes), tai chi ou yoga.
Passando para outra área, é possível encontrar árvores e plantas para sentir a textura, cheirar os diferentes odores, ver as cores e, inclusive, saborear alguns tipos de plantas ou frutos.
E porque as memórias são tão importantes, elas têm um lugar especial nestes jardins terapêuticos. Karin exemplifica com as oliveiras, uma árvore importante para as pessoas e cultura ibérica. “Sabemos que algumas pessoas mais velhas têm uma forte ligação a estas árvores, ao pisar das azeitonas, ao azeite”, sublinha.
O quarto espaço é a horta terapêutica. “Aqui há sempre um terapeuta cujo trabalho é ajudar as pessoas a desempenhar uma tarefa com que se possam sentir estimuladas, realizadas. Se for preciso dividir as tarefas, faz-se, para que as pessoas as possam realizar. Também podem precisar de algum instrumento ou de adoptar uma posição do corpo (e fazer um exercício) que lhes permita atingir o seu objectivo”, explica a arquitecta paisagista.
Actividades exteriores estimulam sentidos
Há poucos estudos sobre o impacto que o ambiente tem nas pessoas com demência. Mas os poucos que existem mostram que os doentes que realizam actividades no exterior – por exemplo, em parques e jardins – apresentam melhoras e têm condições para reduzir a medicação, refere Kari Palmlof.
Cita até um estudo americano em que as pessoas foram divididas em dois grupos. Um ficou numa sala com paredes brancas; o outro tinha vistas para o exterior. E este grupo apresentou melhoras que levaram a um corte de cerca de 30% dos fármacos.
A arquitecta defende este conceito, mas frisa que é necessário que haja alguma organização que a suporte. Alguém ou alguma entidade que se responsabilize pelo financiamento, pela educação e formação das terapeutas que trabalham com os idosos e pessoas com demência. Sendo que este tipo de jardins se destinam, sobretudo, a pessoas em estado inicial da doença de Alzheimer ou outro tipo de demência.
Cerca de 90% das pessoas nesta situação ou a quem a doença ainda nem sequer foi diagnosticada passam a maior parte do tempo em casa. As famílias precisam de encontrar respostas antes de chegar a altura em que, provavelmente, têm que ir para um lar ou ficar em casa, mas com mobilidade reduzida, refere Karin Palmlof.
No caso de Madrid, os jardins estão integrados num projecto em parceria com os serviços sociais do Ayuntamento, que assume o financiamento.