O arcebispo de Cantuária e líder da Igreja Anglicana, Justin Welby, pediu este sábado em Lisboa um "novo humanismo" mundial que responda às guerras e aos conflitos que têm aumentado.
Na homilia da celebração que assinala a abertura do 100.º Sínodo Diocesano da Igreja Lusitana - o ramo português da Comunhão Anglicana -, Justin Welby admitiu que os tempos atuais são "duros" para a humanidade, mas defendeu que, também por isso, é exigível aos cristãos que defendam um "novo humanismo" que respeite os valores democráticos e os direitos humanos.
No seu discurso, Welby citou textos de dois papas católicos, João Paulo II e Francisco, para insistir que a defesa dos valores humanistas é transversal a todos os credos cristãos.
Exemplo deste esforço foi o que encontrou na sua recente visita à Ucrânia, perto da cidade de Odessa, onde se reuniu com evangélicos batistas, que formaram um grupo de apoio a pessoas em situação de sem-abrigo e que agora ajudam a retirar civis de zonas bombardeadas.
"Eles não imaginavam isto quando começaram" o seu trabalho pastoral, mas hoje, perante o desafio da guerra, "estão certos, porque escolheram viver em Cristo o seu futuro", afirmou Justin Welby.
Nos tempos de hoje, "quando olhamos para o mundo não encontramos um novo humanismo, mas uma nova praga, uma nova crueldade" e o cristianismo "deve ser diferente e um exemplo", porque a Bíblia "fala para todos, mas também fala para os líderes" políticos e sociais e responsabiliza cada crente pelo que faz na vida na defesa do próximo.
Na saudação inicial, o bispo da Igreja Lusitana, anfitrião da visita de dois dias do arcebispo da Cantuária, afirmou que a instituição tem feito uma forte aposta no ecumenismo religioso.
Ao celebrar os cem anos do Sínodo Diocesano, "a Igreja Lusitana só se compreende a si mesma na abertura e no caminhar ecuménico com as outras igrejas, para que a unidade visível dos cristãos seja cada mais uma realidade para que o mundo creia em Jesus Cristo", afirmou Jorge Pina Cabral.
Agradecendo a presença do arcebispo da Cantuária e primaz da Igreja de Inglaterra, o bispo português saudou o "seu exemplo de vida e compromisso cristão, pelo seu ministério e incansável trabalho pela reconciliação e unidade, pela sua voz profética e de pacificador e corajosa presença em palcos de guerra e de violência, como recentemente aconteceu em Israel e Ucrânia".
Na cerimónia estiveram presentes o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, Vera Jardim, e do núncio apostólico da Igreja Católica em Portugal, Ivo Scapolo.
O programa de Welby teve início na manhã de hoje na Catedral de S. Paulo (ex-Convento dos Marianos), em Lisboa, com um encontro com líderes religiosos e ecuménicos em Portugal.
Depois da eucaristia de abertura do Sínodo, haverá um encontro entre o arcebispo de Cantuária e o Presidente da República, para apresentação de cumprimentos.
No domingo, Justin Welby e a mulher visitarão a Paróquia Lusitana da Sagrada Família, em Belas-Queluz, com celebração da eucaristia, "seguida de visita ao trabalho social desenvolvido no Centro Social desta Paróquia", informou a Igreja.
O Sínodo tem como tema genérico "Chamados à Esperança e Santidade - Testemunhar Juntos" e, segundo uma nota da Igreja Lusitana, "marca uma etapa histórica no caminhar multissecular de uma Igreja que realizou o seu Sínodo fundador em 1880".
Justin Portal Welby, de 68 anos, é o 105.º arcebispo da Cantuária e o primaz da Igreja da Inglaterra, cargo que lhe confere o título de líder espiritual da Comunhão Anglicana mundial.
Antes de ser ordenado, em 1992, trabalhou durante 11 anos na indústria petrolífera.
Sucedeu a Rowan Williams como arcebispo de Cantuária em 21 de março de 2013.