O Papa Francisco falou esta segunda-feira do olhar misericordioso de Jesus, precisamente no aniversário do dia em que se sentiu chamado ao sacerdócio.
Foi há 62 anos, neste dia de 1953, que o Papa se sentiu atraído a entrar numa igreja e confessar-se. Mais tarde Francisco disse que “algo se passou” naquele confessionário, que tem dificuldade em definir, mas que mudou a sua vida para sempre, levando-o ao seminário e a uma vida dedicada ao serviço da Igreja.
Esta segunda-feira a Igreja assinala também a festa de São Mateus, evangelista. Francisco partiu do Evangelho em que se narra a conversão de Mateus, que era cobrador de impostos, para falar da misericórdia de Deus, numa homilia com toques muito pessoais.
“Ainda que não ousemos levantar os olhos para o Senhor, Ele é o primeiro a olhar-nos. É a nossa história pessoal; tal como muitos outros, cada um de nós pode dizer: eu também sou um pecador, sobre quem Jesus pousou o seu olhar. Convido-vos a fazerdes, em vossas casas ou na igreja, um tempo de silêncio recordando, com gratidão e alegria, as circunstâncias, o momento em que o olhar misericordioso de Deus pousou sobre a nossa vida.”
Este olhar de Jesus, explica Francisco, é muito diferente do olhar dos homens: “Jesus sabe ver para além das aparências, para além do pecado, do fracasso ou da nossa indignidade. Sabe ver para além da categoria social a que possamos pertencer. Para além de tudo isso, Ele vê a dignidade de filho, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da nossa alma. Veio precisamente à procura de todos aqueles que se sentem indignos de Deus, indignos dos outros”.
“Deixemo-nos olhar por Jesus, deixemos que o seu olhar percorra as nossas veredas, deixemos que o seu olhar nos devolva a alegria, a esperança.”
É nos sacramentos, diz o Papa, que devemos procurar Jesus. “Deixemo-nos olhar pelo Senhor na oração, na Eucaristia, na Confissão, nos nossos irmãos, especialmente naqueles que se sentem postos de lado, que se sentem mais sozinhos. E aprendamos a olhar como Ele nos olha”.
“Partilhemos a sua ternura e misericórdia pelos doentes, os presos, os idosos e as famílias em dificuldade. Uma vez mais somos chamados a aprender de Jesus, que sempre olha o que há de mais autêntico em cada pessoa, isto é, a imagem de seu Pai.”
Nesta sua homilia, Francisco teceu ainda elogios à forma como a Igreja Cubana procura levar Jesus a todos os que vivem naquela ilha, debaixo de um regime comunista há dezenas de anos. Francisco falou especificamente das “casas de missão” que existem para servir as comunidades onde há escassez de igrejas e sacerdotes.
“Sei do grande esforço e sacrifício com que a Igreja em Cuba trabalha para levar a todos, mesmo nos lugares mais remotos, a palavra e a presença de Cristo”, disse o Papa, no final da sua homilia.
“Menção especial merecem aqui as chamadas ‘casas de missão’ que permitem a muitas pessoas, dada a escassez de templos e sacerdotes, ter um espaço para a oração, a escuta da Palavra, a catequese e a vida comunitária. São pequenos sinais da presença de Deus na nossa terra”, concluiu.
A visita do Papa a Cuba continua esta segunda-feira com uma bênção da cidade de Holguín, a terceira maior do país, pouco depois das 20h portuguesas. Terça-feira Francisco parte para os Estados Unidos, onde passará cerca de uma semana. O Papa participa no Encontro Mundial das Famílias, encontra-se com Barack Obama e tem ainda um discurso agendado para a sede das Nações Unidas.