O coordenador-geral-adjunto dos Médicos sem Fronteiras (MSF), Mário Fumo, diz à Renascença que "a situação psicológica das populações de Cabo Delgado está afetada”.
Apontando situações em que “alguns perderam a família, assistiram a situações de decapitação ou a situações de violência sexual”, Mário Fumo lembra que “existem muitos órfãos”.
"Todas essas situações, todas essas experiências são muito negativas”, tendo afetado a saúde mental das populações, pelo que “um dos focos de intervenção" dos MSF é “cuidar dessas populações que estão em situação vulnerável”.
O responsável prefere não avançar com números no que diz respeito a deslocados, mas refere que, “apesar do conflito não ter a intensidade verificada entre 2017 e 2020”, nesta altura vivem-se embates "um pouco localizados com a intenção de procurar comida ou condições para esses grupos insurgentes”.
Esta realidade obriga a organização a um esforço de “readaptação e reinvenção para responder melhor à questão humanitária que a província vive”, tanto mais que “as dificuldades são inúmeras no contexto médico, no contexto saúde”.
"Estas deslocaçõe, que obrigam a realocamentos trazem consigo inúmeras situações de saúde, tais como o acompanhamento de mulheres grávidas ou crianças com malária sem diagnóstico e que não têm um tratamento digno”, exemplifica.
“Acompanhamos também pessoas com doenças crônicas, como HIV, tuberculose e diabetes que também deixaram de ter um acompanhamento médico da sua situação crónica”, acrescenta.
“Tem sido um desafio bastante grande para nós”, reforça.
Nestas declarações à Renascença, Mário Fumo revela que “há zonas sem nenhum serviço de saúde” porque os profissionais tiveram de abandonar esses locais “por razões de segurança”.
O responsável diz que a MSF teve que criar brigadas móveis para poder chegar à população carenciada. "Essas brigadas comportam vários serviços que permitem a realização de inúmeras consultas, no mínimo 200 consultas por dia de cada brigada."
O coordenador-geral-adjunto da MSF garante que a organização “está a fazer o máximo que pode juntamente com as autoridades” e assegura que procura “sempre trabalhar num contexto livre, independente e neutral, sem olhar a cor, religião ou política”.
“Eu acho que a resposta que cada um de nós - poder político e MSF - como atores tem de dar é ajudar a melhorar a situação desta população que está bastante vulnerável e necessitada”, reforça.
Pior último, o responsável deixa um apelo à criação de melhores condições de segurança das equipas dos Médicos sem Fronteiras, sobretudo nas “zonas onde é difícil o acesso em termos de segurança”.
“O nosso apelo vai para a necessidade destes serviços humanitários integrarem um processo restrito e independente que permita uma resposta imediata e segura às situações de maior emergência na província de Cabo Delgado”, conclui.