As cinco ativistas pelo clima que hoje foram detidas pela polícia no Ministério da Economia saíram da 4.ª esquadra da PSP depois das 22:00, mais de quatro horas após a detenção, e serão ouvidas em tribunal na quarta-feira.
As cinco jovens faziam parte de um grupo de seis que hoje foi recebido pelo ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e que no fim do encontro se colaram na entrada do edifício.
Jovens ativistas pelo clima ocuparam na ultima semana várias escolas de Lisboa, exigindo o fim dos combustíveis fósseis até 2030 e a demissão do ministro da Economia, que acusam de defender os combustíveis fósseis.
Após a saída da esquadra, na Rua da Palma, os jovens anunciaram que na próxima primavera vão voltar às ocupações de estabelecimentos de ensino, mas no dobro do que fizeram nesta semana e também fora de Lisboa, e que vão também protagonizar ações “cada vez mais disruptivas” contra o gás, por ser também um combustível fóssil.
Na noite de segunda-feira os ativistas já tinham anunciado o fim das ocupações das escolas, que se saldou também por detenções na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a única que pediu a intervenção policial para obrigar os estudantes a deixar o local.
Perante a disponibilidade do ministro da Economia para se encontrar com seis dos jovens a reunião realizou-se hoje, ao mesmo tempo que dezenas de outros jovens ficaram à porta do Ministério, com cartazes com frases como “Renováveis para todos”, “Se não nós quem?” ou “Estado de emergência”, e gritando frase como “Costa Silva demissão” ou “A nossa espécie não fica extinta, neutralidade até 2030”, entre muitas outras.
Após a reunião com o ministro, que durou menos de 30 minutos, as seis jovens sentaram-se e cinco delas colaram-se na entrada do Ministério (lado de dentro) e leram o documento que tinham levado ao ministro, o “pedido de demissão”, para que este assinasse.
O “pedido de demissão” escrito pelos jovens, como se fosse o ministro, diz nomeadamente que Costa e Silva reconhece que defende “uma aposta crescente de importação de gás natural”.
“Enquanto Ministro da Economia e do Mar fui incapaz de desempenhar as funções que se pretendem de um governo”, diz o documento que os jovens entregaram ao ministro, acusando-o de ignorar propostas para criar 200 mil empregos pelo clima e defender “o lucro das petrolíferas”.
O ministro, que inicialmente, foi dito aos jornalistas, não faria declarações, acabou por falar com a imprensa, precisamente no momento em que as jovens foram retiradas pela polícia da entrada do Ministério.
Costa Silva disse aos jornalistas que os jovens não lhe apresentaram qualquer proposta e apenas a “carta de demissão”, que contem “vários factos falsos”.
Dizendo que o diálogo com os jovens deve ser mantido, Costa Silva afirmou que estava preparado para os ouvir, e que estava à espera de propostas, explicando-lhes ele próprio como o Governo está a responder à mudança climática.
“Mas eles não querem discutir as soluções, centraram-se no meu percurso”, afirmou Costa Silva, acrescentando que lhes explicou que há 20 anos luta pela descarbonização, mesmo quando trabalhou numa petrolífera, e que tomou há muito posições públicas a favor das energias renováveis. E disse que não se demitia e que mudar uma pessoa não altera nada.
Depois das declarações do ministro, quando as cinco jovens já tinham sido levadas para a esquadra, o protesto passou para a Rua da Palma, onde dezenas de ativistas se sentaram na rua, entoando cânticos, em apoio às detidas.
Clara Pestana fez parte do grupo de seis jovens que se reuniu com o ministro mas foi a única que não foi detida, por opção, saindo antes dos três avisos que a PSP fez para que saíssem da entrada do Ministério.
Na reunião “apresentamos a carta de demissão e pedimos para o ministro assinar. E dissemos depois cá fora que não saiamos enquanto ele não saísse também”, explicou à Lusa, acrescentando que os jovens propõem uma campanha de empregos pelo clima que o ministro afirmou desconhecer.
“Explicou o que está a fazer mas isso todos nós sabemos. Precisamos de mudar o paradigma, tirar o lucro do centro e colocar a vida”, disse Clara Pestana.
Questionada sobre o porquê da insistência da demissão do ministro a jovem disse que essa demissão é só “um primeiro passo”, porque é preciso acabar com o gás fóssil até 2025 e que todas as ações para combater as alterações climáticas são cruciais, não apenas a demissão de António Costa Silva.
Clara Pestana foi uma das ativistas pelo clima que esteve na Rua da Palma até à saída das cinco outras ativistas da esquadra, entre dezenas de outros jovens, a maioria mulheres, que cantaram, dançaram e entoaram palavras de ordem.