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Bob Dylan não deixava escapar um tema inédito ia para oito anos. E agora, do nada, sem aviso e quase de enfiada, lança dois.
Depois de “Murder Most Foul”, um tema sobre o homicídio, em 1968, do então Presidente norte-americano John F. Kennedy – a versos tantos canta Dylan: “Foi o dia em que rebentaram os miolos do rei/Milhares estavam a assistir, mas ninguém viu nada/Aconteceu tão rápido, de surpresa/Ali mesmo, diante dos olhos de toda a gente” –, que saiu no passado dia 27 de março, esta sexta-feira Bob Dylan ofereceu-nos (nas diversas plataformas digitais) “I Countain Multitudes”.
É diferente, necessariamente diferente, desde logo porque não tem os 17 minutos da anterior (tem uns “modestos” quatro) e, também, porque não tem uma referência, como a era Kennedy, mas um sem-número delas, mais ou menos reais, de Anne Frank a Indiana Jones – e as referências continuam: os Rolling Stones, David Bowie, os poetas Edgar Allan Poe e William Blake, Beethoven ou Chopin.
“Sou um homem de contradições, um homem de diversos humores”, escreve Bob Dylan, atirando mais adiante, de chofre: “Vou manter o caminho aberto, o caminho na minha mente/Vou fazer com que não haja amor deixado para trás”.
O que lá virá, ninguém sabe dizer ao certo: talvez venha outra canção, talvez mesmo um álbum. Talvez isto ou talvez coisa nenhuma.´
Hoje com 78 anos, e 38 álbuns de estúdio depois, Dylan apresentou-nos agora o que de primeiro há nele de inédito desde que saiu “Tempest”, em 2012.
Nunca o interregno entre discos (de inéditos, leia-se) foi tão grande. É que "Triplicate", de 2017, o primeiro triplo álbum que teve na carreira, fez-se com 30 versões de clássicos da música norte-americana – e o que mais saiu, antes ou depois, foram álbuns com gravações ao vivo de concertos (os de abril, no Japão, foram cancelados devido à pandemia de Covid-19) que deu nas últimas décadas.
O que lá viver que venha, então, de “diversos humores” e, como promete Bob Dylan, sem “amor deixado para trás”.