As 'startups' que, nos últimos dias, rumaram à Web Summit em Lisboa para mostrar as suas ideias de negócio aos investidores sentem que estão a perder destaque para as gigantes internacionais.
De acordo com alguns dos visitantes que já estiveram em edições anteriores, o espaço continua manifestamente insuficiente para os 70 mil visitantes esperados e as conferências são hoje mais sobre política do que tecnologia.
Num dos dias da Web Summit, de grande fluxo de entrada no recinto logo pela manhã, João Sande Lemos está no meio da multidão. Já esteve noutras edições. E vê diferenças.
“Eu vim há dois anos e o que noto é uma presença muito maior das grandes empresas, que têm os grandes stands e que têm ocupado a parte central aqui da Web Summit”. Na opinião deste consultor na área das telecomunicações, está-se a relegar um pouco as 'startups' para segundo plano. Algo que, na opinião de João Sande Lemos, "não deveria acontecer" uma vez que, para o consultor, era aquilo que tornava a feira de tecnologia e inovação interessante.
E destaca outro ponto que merece a atenção da organização: a maioria da palestras deviam centrar-se noutros assuntos para além dos políticos. “As 'talks' têm ido pouco ao assunto, pouco à tecnologia, pouco à forma como as empresas mudam a sua forma de trabalhar através da tecnologia. E, por isso, tenho notado um bocadinho nesse decair da qualidade”, confessa à Renascença.
Maria Zorrinho também não é estreante na Web Summit e também já reparou nas diferenças: as empresas grandes estão em destaque, as 'startups' mais isoladas e escondidas. Zorrinho considera que há dois registos na Web Summit: “por um lado há pessoas que vêm e querem muito participar e estar junto das 'startups' - querem perceber que ideias novas estão aqui. Por outro lado, há os que querem ouvir os temas, estar nas conferências e no palco central – e para essas, faz todo o sentido fazer esta divisão por temas. Isto é uma logística complicada, não é fácil entrar todos os dias. Por isso, acho que faz sentido”.
A falta de espaço foi também notada, e a exigência de maiores instalações e mais suporte aos visitantes na cidade (e não apenas no local onde se realiza o evento) também foi tema recorrente. É o caso de Rui Cunha, para quem a edição deste ano teve sobretudo uma característica: “muito mais gente". "Um registo muito mais difícil e demorado. Parece-me que a organização não estava preparada para este numero de pessoas. Se querem crescer, vão ter de aumentar as instalações", defendeu.
Comparando com outros certames, como a World Mobile Congress, em Barcelona, onde Rui Cunha já esteve, a Web Summit peca pela organização: “eles são mais organizados, têm muito mais voluntários espalhados pela própria cidade. É uma coisa que não se nota aqui, onde há falta de suporte dentro da própria cidade".
Acompanhado de outros dois brasileiros, Christian Barbosa é um verdadeiro "caçador" de oportunidades de negócio. O ano passado esteve em Lisboa e investiu em duas 'startups', uma portuguesa e uma alemã. Este brasileiro de origens portuguesas é um “habituée” nestas andanças. “Eu estou desde a segunda edição. Só não fui à primeira”, explica, porque diz ter ficado algo desconfiado. “Pô, lá na Irlanda, em Dublin. Sei lá se vai ser bom. Mas fui na segunda e venho desde então. É um evento que está sempre no meu calendário. Sempre”.
Para o ano, Christian estará de regresso a Lisboa. Porque para o ano, até ver, há mais Web Summit.