Dezenas de pessoas manifestaram esta segunda-feira em Lisboa apoio à “resistência palestiniana contra a colonização de Israel”, como resumiu em declarações à Lusa Shahd Wadi, membro do Coletivo pela Libertação da Palestina (CLP), que organizou o protesto.
“Viemos lembrar o mundo que os acontecimentos do dia 07 de outubro [ataque do Hamas contra Israel que vitimou centenas de civis] começaram há muitos anos”, disse esta palestiniana, residente em Portugal há 17 anos, sublinhando que a vila de onde é originária “foi ocupada e apagada do mapa há 45 anos e há décadas que a Palestina é uma prisão a céu aberto”.
“Nós não apoiamos a ideologia do Hamas, mas apoiamos a resistência palestiniana, que está a ser liderada pelo Hamas”, fez ainda questão de sublinhar.
Entre as dezenas de manifestantes que se juntaram ao final da tarde no Largo Camões em Lisboa, vários trouxeram bandeiras palestinianas e cartazes em que podia ler-se “Abaixo o apartheid”, ou palavras de ordem em inglês como “Resistência não é terrorismo” e “Libertem a Palestina imediatamente”.
Ricardo Esteves Ribeiro, organizador da manifestação, também membro do CLP, lembrou em declarações à Lusa que o ano de 2023 “já é o mais mortal na Palestina desde 2005”, contabilizando “mais de 200 pessoas mortas pelo exército israelita ou por colonos” antes da ação do passado sábado.
“Obviamente que legitimamos a ação de resistência, este é um povo que está ocupado há 75 anos e tem, como todos os povos ocupados, o direito de resistir à ocupação, utilizando os meios que tem à sua disposição, incluindo a [luta] armada, tal como diz o direito internacional mas também como mostrou a história anticolonial durante o século XX”, afirmou ainda.
“Isso significa que apoiamos o Hamas? Não. Obviamente que não apoiamos o Hamas, não temos qualquer afinidade política com o Hamas, acho aliás que é [um movimento] ditatorial e autoritário, mas isso não quer dizer que não tem o direito de resistir”, acrescentou Ricardo Ribeiro.
O jovem ativista fez questão de sublinhar, por outro lado, que “o que está a acontecer na Palestina não é apenas uma ação do Hamas”, considerando que “essa ideia” contribui para uma dualidade perniciosa: “Hamas ou solidariedade com Israel”.
Para além do Hamas, acrescentou, a ação de resistência palestiniana “juntou a Al-Aqsa Brigades, em Jerusalém, a Lion’s Den em Nablus, as Jenin Brigades, a Islamic Jihad em Gaza, a PFLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina, na sigla em inglês) no Líbano, e não só, mas também muitas pessoas que não têm qualquer afinidade com estes coletivos, mas que estão nas ruas em toda a Cisjordânia”.
“Não é apenas o Hamas que está a fazer isto, é todo um povo que está nas ruas a lutar contra uma ocupação colonial que existe há 75 anos”, afirmou também Shahd Wadi, alertando para uma esperada resposta inédita de Israel.
“Israel pediu uma licença à comunidade internacional para realizar uma limpeza étnica, que já estava em curso, mas agora vai ser levada a uma escala como nunca antes”, disse.
Também Carlos Almeida, do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino (MDPP) - que promete continuar ao longo dos próximos dias com iniciativas de solidariedade para com o povo palestiniano - fez questão de deixar “bem presente” à União Europeia e ao governo português a consciência de que, “quando dizem que Israel tem o direito de se defender, estão a ser cúmplices de um genocídio, porque o que o exército israelita prepara é um massacre”.
Atualmente, Israel, os Estados Unidos – o seu principal aliado – e a União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.
O Hamas lançou no sábado um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação “Tempestade al-Aqsa”, com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.
Em resposta ao ataque surpresa, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação que batizou como “Espadas de Ferro”.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está “em guerra” com o Hamas.
O mais recente balanço do Ministério da Saúde palestiniano registava pelo menos 560 mortos devido aos ataques aéreos israelitas em Gaza – incluindo dezenas de menores e mulheres – o que elevava para mais de 1.250 o total de mortes nos dois lados na sequência dos confrontos armados iniciados no sábado.