O Governo espanhol anunciou esta quinta-feira a entrada em serviço da eletrificação de 195 quilómetros de linha de alta velocidade até Badajoz. O troço, construído em bitola ibérica, é mais um passo da Espanha para tornar realidade a ligação rápida de comboio a Lisboa.
A linha, entre as localidades de Plasencia e Badajoz – passando pelas cidades de Cáceres e Mérida -, já estava em serviço desde 2022, mas a eletrificação apenas foi concluída neste mês de dezembro.
Segundo o Ministério dos Transportes e Mobilidade Sustentável de Espanha, a ligação ferroviária foi construída em bitola ibérica, com travessas polivalentes, tal como Portugal tem feito. Essa opção permite uma conversão futura para a bitola europeia, se um dia os governos ibéricos tomarem essa decisão.
Por agora, os comboios apenas podem circular a 200 km/h. Isso deve-se ao sistema de sinalização, que vai ser alterado para o Sistema Europeu de Gestão do Tráfego Ferroviário (ERTMS), permitindo subir as velocidades para o praticado no resto da rede de alta velocidade em Espanha.
O troço agora eletrificado faz parte da ligação entre as duas capitais ibéricas - um dos corredores de alta velocidade previstos pela União Europeia na Rede Transeuropeias de Transportes. Do lado de Espanha, fica a faltar a ligação entre Plasencia e Madrid.
O processo para a construção dessa parte em falta já começou. De acordo com a ADIF, a gestora das infraestruturas ferroviárias em Espanha, há obras em cerca de 70 quilómetros de linha, enquanto os restantes 200 quilómetros até Madrid estão à espera de aprovação ambiental.
E em Portugal?
Do lado português, também há obras a decorrer. Parte do afamado Ferrovia 2020, a nova linha entre Évora e Elvas liga a linha de Évora à linha do Leste, e depois até à fronteira. Parte desta linha, que vai ter uma velocidade máxima de 250 km/h para os comboios de passageiros, está concluída.
As restantes três fases, em conjunto com a instalação da sinalização - já no padrão europeu - ficarão concluídas em 2024, se não houver mais derrapagens nas obras. A conclusão da obra estava originalmente marcada para o final de 2019, mas os trabalhos só começaram nessa altura.
Depois desse passo, ficam a faltar mais duas etapas em território português - a ligação de alta velocidade entre Lisboa e Évora e a terceira travessia do Tejo, ambos presentes no Plano Ferroviário Nacional. Esse plano esteve em consulta pública no início do ano, e ainda não há data de publicação da versão final.
No fim de tudo, que tempos de viagem podemos esperar? Em Portugal, com tudo feito, projeta-se 1h20 de viagem até à fronteira (face às quase quatro horas de hoje). Sem a nova ponte sobre o rio Tejo, construída entre Chelas/Beato e o Barreiro, o Plano Ferroviário Nacional prevê uma viagem de 1h57 entre Lisboa e a fronteira.
Contando com as obras feitas também em Espanha, a viagem entre Lisboa e Madrid deverá descer abaixo das quatro horas de duração, passando a poder competir com as viagens de avião.
Do lado do transporte propriamente dito, a Renfe já se mostrou interessada em chegar a Évora. Para além disso, tem posto em prática um plano de expansão internacional, que já leva comboios espanhóis de alta velocidade até Lyon e Marselha.
À ligação a Madrid deve juntar-se, por volta de 2030, a ligação a Vigo, através da linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto - que aguarda o lançamento do concurso para se candidatar de novo a fundos europeus e iniciar o processo de construção do primeiro troço. A primeira fase, entre o Porto e Soure, deve entrar em exploração em 2029.
Depois da estação de Campanhã, e assim que todas as ligações estiverem construídas, os comboios de alta velocidade vão parar no aeroporto Francisco Sá Carneiro, assim como em Braga e Valença, seguindo depois para Vigo. Existe ainda a possibilidade de uma estação intermédia, na zona de Ponte de Lima, caso a procura o justifique.