Veja também:
- Todas as notícias, análises e vídeos sobre as eleições nos EUA
- Hillary. O que pensa a candidata que pode ser a primeira Presidenta americana?
- Donald Trump, o rei da polémica que quer ser Presidente dos EUA
- Bernie Sanders. Um “socialista” a caminho da Casa Branca?
Hillary Clinton e Donald Trump ficaram esta terça-feira ainda mais próximos de garantir a nomeação dos seus partidos para as eleições de Novembro ao baterem inapelavelmente os seus adversários na corrida presidencial americana.
Nos cinco estados que foram a votos, na costa leste dos Estados Unidos, Trump arrasou em todos e Clinton venceu em quatro e perdeu apenas em Rhode Island, o mais pequeno estado do país. Pensilvânia, Maryland, Connecticut e Delaware deram-lhe vitórias confortáveis.
Repetindo a proeza da semana passada na sua terra natal, Nova Iorque, Trump teve votações que rondaram os 60%, deixando os rivais a 40 pontos de distância. Ted Cruz, o senador do Texas, só na Pensilvânia passou a barreira dos 20%, registando um resultado humilhante, enquanto John Kasich, o governador do Ohio, rondou sempre os 20%, à excepção do Connecticut onde atingiu os 29%.
No conjunto da noite eleitoral, Donald Trump terá arrecadado 105 delegados, Kasich cinco e Cruz apenas um, o que reforça sobremaneira a liderança do multimilionário e o coloca agora a menos de 300 delegados dos necessários 1.237 para garantir a nomeação do Partido Republicano.
Uma contabilidade, contudo, algo volátil, dadas as regras peculiares de cada estado para escolher os delegados. Nesta terça-feira, o vencedor em cada estado recolhe a maioria dos delegados, mas precisa também de obter maiorias em cada distrito eleitoral para ganhar outra fatia importante. Acresce ainda que na Pensilvânia, por exemplo, dos 71 delegados em disputa 54 não ficam vinculados a qualquer dos candidatos, ou seja, são livres de votar em quem quiserem na convenção do partido que reunirá em Julho, em Cleveland. Um “pormenor” que na actual corrida pode ser decisivo, já que Trump precisa de garantir a fidelidade de, pelo menos, 1.237 para ser o escolhido, o que fará destes 54 delegados os mais cortejados no seio do partido. Eles podem, de facto, fazer a diferença.
Toda a estratégia de Ted Cruz e John Kasich, em sintonia com o 'establishment' do partido, se baseia justamente em evitar que o multimilionário consiga a maioria dos delegados para, em plena convenção, o impedir de ser o candidato oficial em Novembro. Aliás, o acordo feito entre os dois no passado domingo visa esse objectivo ao promover a desistência de Kasich no estado do Indiana a favor de Cruz e a desistência deste para Kasich no Oregon e Novo México.
Uma articulação de esforços que Cruz espera que funcione sobretudo no Indiana, um estado onde ele tem hipótese de bater Trump e onde está a apostar forte. Nos últimos dias, pouca campanha fez na costa leste, preferindo calcorrear o Indiana, cujos 57 delegados, em disputa na próxima terça-feira, podem compensar o fiasco da última noite.
"Fazer uma revolução política na América"
Os estados que foram a votos são maioritariamente liberais, com grandes concentrações urbanas e uma população com forte poder de compra e elevados índices de escolaridade. Um terreno hostil a Cruz, cujo conservadorismo extremo o credita sobretudo em estados do interior do país, em áreas rurais e de forte concentração de evangélicos. Trump, por seu turno, com o seu estilo exuberante e discurso anti-establishment tem cativado eleitores em zonas conservadoras mas também mais liberais, em terrenos com pouca escolaridade, mas também com níveis escolares mais elevados. Aparentemente, um eleitorado mais heterogéneo do que o de Cruz, o que coloca a questão da elegibilidade do senador texano se for ele o escolhido do partido para concorrer contra Clinton em Novembro.
No campo democrático já ninguém duvida da nomeação de Hillary, nem mesmo entre os adeptos de Bernie Sanders. Depois da vitória em Nova Iorque, na semana passada, e desta vitória nos cinco estados da costa leste, a ex-secretária de Estado está a 250 delegados de garantir a maioria necessária para ser a escolhida do partido.
À excepção do Connecticut, onde venceu à tangente, Clinton teve vitórias folgadas na Pensilvânia, em Maryland e no Delaware, perdendo por 12 pontos percentuais em Rhode Island. Nada que surpreenda dada a composição social dos estados em disputa. Vistos os resultados um pouco mais em pormenor, confirmou-se uma tendência desta corrida entre Hillary e Sanders – o senador só venceu nas áreas mais rurais de cada estado e foi batido em todas as cidades, excepto Providence, em Rhode Island. As concentrações urbanas e diversidade étnica têm favorecido Clinton.
A interiorização da derrota nas hostes de Sanders é hoje patente. Desafiado por Trump a avançar como independente para as eleições de Novembro, alegadamente porque estaria a ser maltratado pelo Partido Democrático, a campanha do senador viu-se na obrigação de reagir. A sua mulher, Jane, foi à CNN dizer que Bernie jamais avançará como independente para não desperdiçar votos e porque o país não pode suportar um republicano como Trump ou Cruz na Casa Branca. Admiti-lo foi admitir que concorrer como candidato do partido está agora fora de hipótese.
No entanto, a campanha de Sanders reiterou que se manterá até ao fim das primárias porque o que está em jogo não é apenas eleger um presidente “mas fazer uma revolução política na América”. Jane Sanders reafirmou a intenção de manter em actividade o movimento que despertou com esta candidatura para continuar a lutar pelas ideias do senador que tanto apoio têm recolhido, sobretudo entre as gerações mais jovens. Mas ao mesmo tempo deixou implícito que apelará ao voto em Hillary Clinton, ao dizer que o país não pode suportar um presidente conservador.
Entre os democratas parece estar a começar o período de sarar as feridas das primárias e concentrar esforços na luta contra os republicanos.