Combates em Nagorno-Karabakh fazem quase 40 mortos, incluindo civis
27-09-2020 - 20:34
 • Lusa

Desde 2016 que não existiam tantas mortes na sequência deste conflito. Azerbaijão decretou a mobilização parcial. ONU e comunidade internacional apelam ao cessar-fogo.

Os combates deste domingo entre o Azerbaijão e as forças separatistas apoiadas pela Arménia, em Nagorno-Karabakh, prolongaram-se pela noite, elevando o número de mortos de 23 mortos (incluindo sete civis) para 39, de acordo com informações de ambas as partes.

Este é o número mais alto desde 2016 como resultado deste conflito que já dura há mais de 30 anos.

No domingo, as autoridades do território anunciaram a morte de 16 soldados separatistas, além de uma mãe e um filho, enquanto o Azerbaijão não quis revelar o número de baixas militares, mas anunciou a morte de cinco civis.

“Após o fogo de artilharia (de separatistas arménios em Karabakh), uma família de cinco pessoas morreu na vila de Gachalty", disse a Procuradoria-Geral do Azerbaijão em comunicado.

Na altura, as hostilidades fizeram recear uma guerra aberta entre o Azerbaijão e a Arménia pelo controlo do enclave de Nagorno-Karabakh.

Os confrontos prolongaram-se durante a noite e, nesta segunda-feira manhã, o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, decretou a mobilização parcial no país – uma medida que entra imediatamente em vigor.

O balanço de vítimas aumentou, contando-se 15 mortes entre os militares, segundo funcionários do Ministério da Defesa em Nagorno-Karabakh, citados pela Aljazeera. O balanço sobe assim para 32, mas se acrescentarmos os civis, o número sobe para 39 vítimas mortais

O Arzebaijão e a Arménia acusam-se mutuamente de terem iniciado as hostilidades deste domingo e declararam a lei marcial, mantendo uma linguagem beligerante.

O Azerbaijão, além de ter declarado a lei marcial no país, fez saber que o recolher é obrigatório na capital, Baku, e em várias outras cidades importantes, após a escalada de violência entre separatistas de Nagorno-Karabakh apoiados pela Arménia e as forças azeris.

Ambos os lados afirmaram ter infligido perdas significativas ao adversário.

O Azerbaijão refere ter conquistado territórios – o que a Arménia nega – alegando também que o exército arménio sofreu baixas, incluindo a queda de helicópteros e a destruição de blindados.

Nagorno-Karabakh é uma região separatista do Azerbaijão, habitada principalmente por arménios e apoiada pela Arménia. A região declarou a sua independência em 1991, sob a forma de República de Artsakh, mas esta apenas é reconhecida pela Arménia.

Os combates ocorrem regularmente entre separatistas e azeris, numa tensão permanente entre os executivos da capital da Arménia, Erevan, e do Azerbaijão, Baku.

Guterres apela ao cessar-fogo

António Guterres juntou-se este domingo ao coro de vozes a pedir a paz na região.

O principal dirigente da ONU “exorta firmemente as partes a cessarem imediatamente os combates, iniciarem uma desaceleração das tensões e regressarem sem demora a negociações significativas”, segundo um comunicado do seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), por sua vez, apelou também a um cessar “imediato” das hostilidades no território separatista de Nagorno-Karabakh, disputado pela Arménia e pelo Azerbaijão, e a que as partes retomem as negociações para resolver o conflito.

“A NATO está profundamente preocupada com os relatos sobre as hostilidades em grande escala na linha de contacto na zona de conflito de Nagorno-Karabakh”, disse num comunicado o representante especial para o Cáucaso e a Ásia Central do secretário-geral da organização, James Appathurai.

O representante especial insistiu ainda em que as partes “deveriam cessar imediatamente as hostilidades, que já causaram vítimas civis”.

Não há solução militar para este conflito. As partes devem retomar as negociações para uma resolução pacífica", sublinhou, assegurando ao mesmo tempo que a NATO apoia os esforços do Grupo de Minsk da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), constituído pela Rússia, Estados Unidos e França.

Território do Império Russo disputado pela Arménia e Azerbaijão durante a guerra civil, após a revolução bolchevique de 1917, Nagorno-Karabakh, habitado maioritariamente por arménios, foi anexada em 1921 por Josef Estaline à República Socialista Soviética do Azerbaijão, tendo obtido, a partir de 1923, um estatuto autónomo.

A União Europeia, o Conselho Europeu, a Rússia, a França e a Alemanha já lamentaram os confrontos e pediram a cessação imediata das hostilidades, bem como o regresso à mesa de negociações.

O Presidente russo, Vladimir Putin, que atua como árbitro na região, pediu o fim dos confrontos.

Este domingo, o Papa Francisco também apelou à paz e ao diálogo.


[Notícia atualizada às 11h00 de segunda-feira, com novo balanço de vítimas mortais]