O comentador da Renascença João Duque sugere que, para inverter o cenário de elevada dependência do jogo, em particular das reapdinhas, as pessoas têm de ganhar consciência de que “o benefício esperado é inferior aos gastos que fazem”.
João Duque salienta, contudo, que o resultado do estudo não é algo "totalmente novo".
"A intensidade é que é de facto preocupante, porque estamos a falar de um número muito significativo de portugueses que estão, digamos assim, viciados neste tipo de jogo, quando este vício é mais associado àqueles que menos podem e que mais falta lhes fará", afirma.
O estudo concluiu que quem aufere entre os 400 e 664 euros tem três vezes mais probabilidade de ser jogador frequente da raspadinha, em comparação com quem recebe 1.500 euros por mês. Mesmo os que recebem menos de 400 euros têm o dobro da probabilidade de "raspar" de forma regular, comparativamente com as classes de rendimento superior.
João Duque destaca a necessidade de explicar que "a média benefício, é inferior à média do gasto".
"É por isso que a Santa Casa da Misericórdia usa, e está com este monopólio deste tipo de jogo, para poder financiar as obras de natureza social. Agora, quando uma pessoa com elevado rendimento joga e compra um bilhete ou dois, se tem muito dinheiro e gasta 50 ou 100 euros e tem consciência de que o benefício esperado é inferior àquilo que gasta e tem a consciência de que essa diferença vai para uma obra social e junta o gosto do jogo - alguma expetativa, uma brincadeira - com um ato de solidariedade social, tudo bem. Esse é o jogo consciente e até saudável, diria eu", analisa.
"Agora, são pessoas que ganham entre 400 e 600 euros e que gastam imenso dinheiro, aquilo que é a sua disponibilidade mensal", alerta o comentador.
"Estas pessoas não sabem estimar probabilidades. Não têm a mínima noção de que quando jogam um euro, em média, vai-lhes sair muito menos. E isso é o primeiro alerta que se deve incutir nas pessoas e, depois, [desenvolver] medidas de acompanhamento deste tipo de pessoas, como o estudo determinou".
Para o economista, é necessário "conhecer estas pessoas e tentar ajudá-las para que elas possam sair deste inferno que, ainda por cima, está associado a outros - o consumo de álcool também".
Questionado sobre se faz sentido criar um “cartão do jogador”, João Duque defende que sim, “como forma de acompanhamento ou de autolimitação, como nós podemos pôr no telemóvel que ao fim de x horas de jogo, o telemóvel pára para nos obrigar a pensar seriamente se nós queremos continuar”.