Mais de 50 mil alunos fizeram, na terça-feira, os exames nacionais de matemática. A prova foi mais difícil do que a do ano passado, tendo os alunos respondido a mais perguntas obrigatórias. O presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), João Araujo, concorda que "a situação do ano passado não se podia repetir” e recorda que a nota mais recorrente “foi 19”.
No entanto, o exame deste ano arrisca a prejudicar os alunos que o fizeram, face àqueles que vão recandidatar-se ao ensino superior, utilizando a nota do ano passado.
Perante este cenário, João Araújo propõe mais vagas de acesso à universidade.
"Faço uma sugestão ao ministro da Ciência: que use todas as vagas dos contingentes especiais que existem e que normalmente não enchem e que as use para o contingente nacional, de forma a compensar esta injustiça que se criou pelo facto de o exame do ano passado ter sido mais fácil que o deste ano", diz.
Depois de mais um ano letivo em pandemia, João Araújo diz que os professores fizeram um grande esforço de adaptação ao ensino à distância. Evita generalizações quando desafiado a fazer um balanço global e opta por defender uma maior aposta na formação dos professores nesta área.
"Existe ensino à distância de grande qualidade, com taxas de aproveitamento, de abandono e de sucesso comparável ao ensino presencial. O problema é que o ensino à distância é altamente técnico e era preciso formação massiva dos professores nesse especto. Os professores fizeram um grande esforço, compensaram, estudaram, eu direi que nem tudo correu bem, mas nem tudo correu mal. Tem de se estudar de forma profissional".
Críticas ao novo programa de Matemática
João Araújo mostra-se também crítico em relação ao novo programa para a disciplina de Matemática, que o Governo está a ultimar no ensino básico.
Depois de terminado o período de consulta pública das Aprendizagens Essenciais, definidas para os nove anos de escolaridade, o novo programa deve ser aplicado no ano letivo 2022/2023.
O presidente da SPM não tem dúvidas ao falar num claro retrocesso.
"É um programa que revoga um processo de continuidade que começou no início deste século e atravessou várias cores políticas e que culminou em 2015 com os melhores resultados de sempre. É problemático a vários títulos: acaba a numeração romana; deixa de haver contas com dinheiro ou contas com tempo ou a representação das grandezas”, exemplifica.
“As crianças ficam, aparentemente, sem saber qual o volume de um litro, o que destrói a razão de ser da disciplina de Matemática que é o sítio onde se treina o pensamento dedutivo”, argumenta também.
O professor catedrático do Departamento de Matemática da Universidade Nova de Lisboa diz ainda que o novo programa para a disciplina, no ensino básico, vai trazer menos contas no papel, menos algoritmos e menos memorização das regras.