O Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, e o seu primeiro-ministro, Boubou Cissé, foram detidos ao final da tarde durante uma revolta por militares, afirmou um dos líderes do motim citado pela agência France-Presse. “Podemos dizer-vos que o Presidente e o primeiro-ministro estão sob o nosso controlo. Prendemo-los na sua casa [do chefe de Estado, em Bamako, capital]”, disse à agência noticiosa um dos líderes do motim, sob anonimato.
Um outro soldado afirmou que os dois líderes estão “num veículo blindado, a caminho de Kati”, a cerca de 15 quilómetros da capital e onde teve início o motim.
Os amotinados assumiram o controlo do campo militar e das ruas adjacentes, dirigindo-se então para o centro da capital, segundo um correspondente da AFP. Em Bamako foram recebidos com aplausos pelos manifestantes que exigem a demissão de Ibrahim Boubacar Keita (IBK).
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, criticou a detenção do chefe de Estado e do chefe do Governo, pedindo a sua libertação imediata. “Condeno veementemente qualquer tentativa de alterações anticonstitucionais e apelo aos amotinados para pararem toda a violência e respeitem as instituições da República”, escreveu Faki Mahamat na plataforma Twitter.
O responsável da comissão da UA apelou ainda à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Organização das Nações Unidas e “toda a comunidade internacional” para que “conjuguem eficazmente os seus esforços para evitar o uso de força” no Mali.
A CEDEAO, que tem promovido um diálogo entre Governo e manifestantes que exigem a destituição de IBK e Boubou Cissé, mostrou-se preocupada com os acontecimentos de hoje no Mali. Num comunicado, a comissão da CEDEAO apelou aos militares para que “regressem sem demora” ao seu quartel e pediu a todas as partes que “deem prioridade ao diálogo para resolver a crise política” no Mali.
A CEDEAO afirmou ainda que está disponível, a par da ONU, União Africana, União Europeia (UE) e “todos os parceiros multilaterais e unilaterais do Mali”, para continuar a apoiar os intervenientes malianos no sentido de resolver a crise política.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, alertou que um golpe de Estado "nunca é a solução" para as divergências num país. "A União Europeia acompanha de perto o que se passa no Mali. Um golpe de Estado nunca é a solução para uma crise, por mais profunda que seja", escreveu Michel no Twitter.
O alto-representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, considerou que esta "de maneira alguma pode ser a resposta à profunda crise sociopolítica" que tem afetado o Mali, assinalando que a organização europeia tem estabelecido contactos para "compreender melhor a situação".
O Governo francês reagiu e condenou o motim. Numa declaração, o ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Jean-Yves Le Drian, indicou que o seu país tinha recebido "com preocupação" a notícia do que parecia ter sido uma tentativa de golpe de Estado. "A França reafirma firmemente o seu total empenho na soberania e democracia do Mali", vincou Le Drian.
Também o executivo espanhol se mostrou preocupado com a situação no Mali.
Em resposta ao motim, os Estados Unidos da América (EUA), através do seu enviado ao Sahel, Peter Pham, opuseram-se a qualquer mudança no Governo que não cumpra a Constituição maliana. “Estamos a seguir com preocupação o desenvolvimento da situação no Mali. Os EUA opõem-se a qualquer mudança de Governo extra-constitucional, quer seja pelos que estão nas ruas, quer pelas forças de defesa e segurança”, escreveu Pham na plataforma Twitter.
Um dos catalisadores da atual crise política no Mali foi a invalidação, no final de abril, de 30 resultados das eleições legislativas pelo Tribunal Constitucional, incluindo cerca de uma dezena em favor da maioria parlamentar. A decisão, aliada a fatores como o clima de instabilidade e insegurança sentido nos últimos anos no centro e norte do país, a estagnação económica e a prolongada corrupção, instigaram várias manifestações contra IBK.
ONU acompanha com preocupação crise no Mali e condena detenção do Presidente
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, está a acompanhar com “profunda preocupação” a situação no Mali, condenando o motim militar que levou à detenção do Presidente do país, Ibrahim Boubacar Keita, foi hoje anunciado.
“O secretário-geral [da ONU] está a acompanhar com profunda preocupação os desenvolvimentos no Mali, incluindo o motim militar que culminou na prisão do Presidente Ibrahim Boubacar Keita e de membros do Governo hoje de manhã em Bamako”, lê-se numa declaração do porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric, publicada no ‘site’ da ONU.
Segundo a mesma nota, Guterres “condena veementemente” estas ações, apelando para a “restauração imediata da ordem constitucional” e do “Estado de direito no Mali”.
Neste sentido, o secretário-geral defende a “libertação imediata” de Ibrahim Boubacar Keita e dos membros do seu Governo, incluindo o primeiro-ministro Boubou Cissé.
A ONU voltou a apelar para uma resolução pacífica do conflito, expressando o seu apoio à União Africana e à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) na procura de uma solução para a atual crise no Mali.
O antigo primeiro-ministro de Portugal exortou também “todas as partes interessadas”, particularmente as forças de segurança e defesa, a defenderem “os direitos humanos e as liberdades individuais” do povo do Mali.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se na quarta-feira para discutir a crise no Mali, onde o presidente, Ibrahim Boubacar Keïta, e o seu primeiro-ministro, Boubou Cissé, foram detidos por militares, disseram fontes diplomáticas. A reunião terá lugar à porta fechada durante a tarde a pedido da França e do Níger, que atualmente preside à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).