O juiz Carlos Alexandre revelou, esta segunda-feira, perante arguidos, procuradores e advogados, estranheza face a alguns dos eventos deste caso. A informação foi apurada pela Renascença junto de fontes judiciais ligadas ao processo.
Carlos Alexandre estranha, desde logo, que a “Procuradoria-Geral da República tenha recebido informação sobre uma a intenção criminosa”- leia-se, furto do material de Tancos revelado por Paulo Lemos à procuradora do Porto - “e não tenha elaborado qualquer documento”.
Outro facto apontado como “estranho” pelo juiz diz respeito à atuação da Polícia Judiciária, nomeadamente, o facto de "a PJ ter tido contactos com informadores e que disso não haja referência nos autos”.
Para esta segunda-feira, estava previsto apenas o interrogatório do coronel da GNR Amândio Marques, mas o juiz pediu para ouvir também o coronel Taciano Correia, já que o arguido com audição marcada para o final do mês se encontrava no tribunal.
A audição foi à porta fechada, como tem sido toda a instrução, mas, segundo informações apuradas pela Renascença, Taciano Correia confirmou em tribunal ter acedido ao pedido de colaboração feito por Luís Vieira, ex-diretor da PJM, para recuperar o material militar furtado em Tancos.
Diz Taciano Correia, ex-diretor do departamento de investigação criminal da GNR, que Amândio Marques era o seu adjunto e “estava a par de tudo”. Quando o substituiu, adianta o coronel da GNR, “Amândio Marques sabia da colaboração dos agentes da GNR à operação da PJM para recuperar as armas”.
Mas Amândio Marques nega esta versão. O coronel da GNR (à altura dos factos, diretor da direção de Investigação Criminal do Comando Operacional da GNR) reconhece que deu autorização para a colaboração numa operação da PJM, mas “não sabia que era o caso de Tancos”.
Diz o ex-director do DIC da GNR que, no dia 16 de outubro de 2017 (um dia antes da recuperação das armas), foi contactado pelo tenente coronel Luís Sequeira (responsável pela investigação criminal da GNR na região do Algarve) a pedir autorização para os militares da GNR se deslocarem a Lisboa. Mas nunca soube, garante Amândio Marques, que era no âmbito do processo de Tancos.
O coronel da GNR (um dos últimos a ser constituído arguido) disse em tribunal que é amigo de Luís Neves (atual diretor da PJ) há 40 anos e que, no final de uma reunião no DCIAP para debater a operação da recuperação do material militar, confessou a desconfiança que tinha com a versão relatada.
Tais desconfianças e dúvidas levaram-no a pedir um relatório aos militares da GNR envolvidos, que entregou a Luís Neves. Recebeu o documento no dia 23 de outubro de 2017, segundo disse em tribunal, através do sargento Lima Santos (também arguido neste processo) e foi aí que ficou com as desconfianças. Mas nunca escreveu sobre elas.
Amândio Marques está acusado dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos e favorecimento pessoal praticado por funcionário, tendo ficado suspenso de funções.
Esta segunda-feira, depois da audiência, a sua advogada, Lúcia Dias, afirmou que estas acusações “não têm qualquer fundamento”, não havendo “no processo qualquer suporte probatório minimamente objetivo que os sustente”. Razão que leva a defesa a estar “confiante na isenção e imparcialidade da justiça”.