António Costa: "Eu não me iludo e não nos podemos iludir com os números"
25-12-2018 - 21:00
 • Eunice Lourenço

Na Mensagem de Natal, o primeiro-ministro reconhece que ainda há “níveis elevados de pobreza” e deixa claro que quer continuar a governar para prosseguir “boa políticas”.

O primeiro-ministro reconhece que em Portugal ainda “persistem níveis elevados de pobreza” e acredita que, para os ultrapassar, é preciso “dar continuidade às boas políticas que tem desenvolvido”. Na sua mensagem de Natal, transmitida esta terça-feira à noite, António Costa faz um balanço positivo da evolução do país e regressa aos dois desafios que têm marcado o seu discurso ao longo deste ano: a natalidade e o desenvolvimento do interior.

“Eu não me iludo e não nos podemos iludir com os números”, diz António Costa na sua mensagem, como que respondendo ao presidente do PSD, Rui Rio, que recentemente acusou o Governo de “enganar os portugueses” e criar falsas expetativas. “Quem semeia ilusões colhe greves”, disse o líder social-democrata no jantar de Natal do seu grupo parlamentar.

Agora, Costa garante que não se ilude e, logo a começar a sua mensagem, faz referência a dois setores que têm sido problemáticos: os militares e as forças de segurança e os profissionais de saúde. O primeiro-ministro dá uma “palavra de especial reconhecimento aos militares das forças armadas e das forças de segurança que estão longe das suas famílias” e “uma palavra também para aqueles que esta noite estão a trabalhar em empresas ou serviços públicos de laboração contínua, como são por exemplo os hospitais”.

Costa também envia uma “palavra de conforto e esperança” a todos os que, por circunstâncias várias, estão sozinhos nesta época.

O sucesso e o insucesso, por António Costa

Passadas as saudações iniciais, o primeiro-ministro entra, então, em modo reflexão sobre o país. Primeiro, o sucesso: “Portugal vive um momento particularmente importante que é essencial poder ser partilhado e vivido com justiça para todos os portugueses. Pela primeira vez desde o inicio do século, a nossa economia cresceu mais do que a média europeia, reduzindo fortemente o desemprego, permitindo-nos ter finalmente contas certas e melhorar a vida da maioria das famílias.”

E, ainda que sem lhe fazer referência, Costa lança o que vai estar em causa no ano eleitoral que se segue. "Virada a página dos anos mais difíceis há agora duas questões essenciais que se colocam: por um lado como conseguimos dar continuidade a este percurso sem riscos de retrocesso, por outro como garantimos que cada vez mais pessoas beneficiem na sua vida do dia a dia desta melhoria”, afirma o primeiro-ministro e líder do PS, passando então ao problema das ilusões e ao que reconhecimento de que nem tudo são rosas.

“Eu não me iludo e não nos podemos iludir com os números. É verdade que temos mais 341 mil empregos criados, mas há ainda muitas pessoas a procurar emprego. Os rendimentos têm melhorado, mas persistem níveis elevados de pobreza. Já conseguimos assegurar médico de família a 93% dos cidadãos, mas há ainda 680 mil portugueses que aguardam pelo seu médico de família. Ou seja, estamos melhor, mas ainda temos muito para continuar a melhorar”, diz Costa.

Chave para a melhoria está na continuidade

Para António Costa, a primeira condição para melhorar é “dar continuidade às boas políticas” que têm dado “bons resultados”.

“Temos de continuar a melhorar os rendimentos e a dignidade no trabalho, aumentar o investimento na educação, na formação ao longo da vida, na criação cultural e cientifica, na inovação. Temos de continuar a criar condições para termos empresas mais sólidas, com melhores condições para investir na sua modernização tecnológica, exportarem mais e para mais mercados, criando mais postos de trabalho, mais estáveis e melhor remunerados. Temos de continuar a investir na qualidade dos serviços públicos, como o serviço nacional de saúde ou os transportes, na modernização das infraestruturas, na melhoria da vida dos pensionistas e das condições de trabalho na administração pública, aumentar a justiça fiscal e as prestações sociais, sem ao mesmo tempo deixarmos de eliminar o défice e continuarmos a reduzir a divida, condições essenciais à credibilidade internacional que reconquistámos e que é fundamental para reduzir os juros que Estado, empresas e famílias pagam”, afirma o primeiro-ministro.

Costa tem feito da sua governação um exercício de equilíbrio entre a recuperação de rendimentos exigida à esquerda e a fiabilidade das contas exigida na Europa.

“Há, pois, que prosseguir com ambição e determinação esta política de responsabilidade e equilíbrio para continuarmos a melhorar a vida de todos em Portugal”, prossegue Costa.

Dois pontos de trabalho para o futuro

O primeiro-ministro define dois grandes desafios de futuro.

“O primeiro é o pleno aproveitamento do nosso território, valorizando os recursos que desaproveitamos no imenso mar que a Madeira e os Açores prolongam até meio do Atlântico ou também no interior do continente, onde temos de aproveitar o seu potencial natural e a sua proximidade a um grande mercado ibérico de 60 milhões de consumidores para podermos repovoar esse território e ganharmos maior coesão territorial”, define o primeiro-ministro.

“O segundo grande desafio é o desafio demográfico, que não podemos resolver só com a imigração. É absolutamente essencial que os jovens sintam que têm em Portugal a oportunidade de se realizarem plenamente do ponto de vista pessoal e profissional e assegurar assim uma nova dinâmica à natalidade”, afirma Costa, que já tinha definido esse como o grande desafio no Congresso do PS, em maio, e que agora já desfia algumas medidas com que pretende dar resposta aos problemas das famílias, como o que chama de “nova geração das políticas habitação”, o aumento do abono de apoio às crianças, o alargamento da rede de creches ou a diminuição dos custos dos transportes públicos.

No entanto, Costa também regressa a outra constante nos seus discursos: a responsabilização das empresas. “Não desistimos de criar as melhores condições para incentivar o regresso de quem, no passado partiu, mas as empresas têm também de compreender que, na economia global, se querem ser competitivas a exportar têm também de ser competitivas a recrutar e a valorizar a carreira dos seus quadros”, avisa o chefe do Governo, que termina a mensagem manifestando a ambição de continuar a trabalhar “para um país mais justo, com mais crescimento, melhor emprego e mais igualdade”.