Numa altura em que a Lituânia está na mira da Rússia, por causa do enclave de Kaliningrado, os portugueses naquele país báltico contam à Renascença como é viver diariamente sob as ameaças que os russos afirmam não serem apenas diplomáticas.
O governo de Vilnius anunciou o bloqueio à entrada de bens russos banidos pelas sanções da União Europeia, o que provocou uma nova frente de atrito com Moscovo.
Samuel Correia, um emigrante português há oito anos na Lituânia, diz não acreditar que as ameaças russas resultem numa invasão.
"A Rússia sabe que isto é algo maior do que a Lituânia e, estando a Lituânia também no seio da NATO, não creio que isto traga uma ameaça real ou, pelo menos, uma ameaça adicional, vá, que já havia durante a guerra [na Ucrânia]. Então acho completamente normal a Rússia ter agora uma retórica de ameaça, mais uma vez, à Lituânia, mas não creio que passe daí", afirma Samuel Correia, de 32 anos.
Já Ricardo Marques, de 35 anos e há cinco fora de Portugal, admite a preocupação sentida no início da guerra com a Ucrânia e conta à Renascença as medidas diárias a que os lituanos tiveram de recorrer.
"No início as pessoas estavam bastante apreensivas, a nossa fronteira com a Polónia é bastante pequena, portanto estamos rodeados entre a Rússia e a Bielorrússia, o que torna tudo muito difícil. Portanto, várias pessoas compraram jerricãs para colocar gasolina para não parar em nenhum lado, o governo também recomendou na altura que preparássemos mochilas com certo tipo de comida, para qualquer tipo de eventualidade. Portanto no início foi um bocado complicado."
Embora apreensivo com as ameaças atuais da Rússia ao país báltico, Ricardo Marques também não receia uma possível invasão, isto porque a Lituânia faz parte da NATO.
"Tendo em conta os desenvolvimentos que aconteceram na guerra com a Ucrânia, a população ficou muito mais calma. Relativamente ao que se passa atualmente, diria que não estamos tão preocupados, mas há de facto alguma preocupação para tentar perceber qual é o próximo passo que a Rússia vai dar, e tudo indica que será hoje ou amanhã, mas não acredito que haja uma invasão total à Lituânia neste momento, tendo em conta o que se passa na Ucrânia."
Neste momento a vida na Lituânia decorre normalmente e ninguém está à espera de uma invasão russa, mas estão sempre atentos às notícias, relata Luís Côrte-Real, de 48 anos.
Há 12 a viver na Lituânia, Luís Côrte-Real também sente agora um forte apoio da NATO ao país e ao seu povo.
"No primeiro mês de guerra, aqui o sentimento era muito mais drástico, as pessoas estavam mais preocupadas com o que poderia vir a acontecer. Neste momento, sentimos este reforço da NATO, a presença de mais tropas, a América sempre a dizer não se preocupem que estamos com vocês e tudo mais."
São já várias as consequências sentidas em todo o mundo desde o início da guerra e a Lituânia não foi exceção. Luís Côrte-Real afirma que, na eventualidade de uma invasão russa, o povo lituano estará preparado para retaliar.
"Os preços aumentaram por todos os lados, a gasolina, as casas, mais gente aqui a viver, muitos ucranianos vieram para a Lituânia. Ele [Putin], pode fazer como fez à Ucrânia, eles também não acreditavam que iam ser invadidos e foram. Já estão preparados [o povo lituano] para o caso disso acontecer e retaliar", garante o português no Leste da Europa.
Esta sexta-feira assinalam-se quatro meses desde a invasão da Ucrânia pelas forças armadas russas.
Moscovo ameaça agora com consequências drásticas a Lituânia, que está a impedir a entrada de vários produtos russos no enclave de Kaliningrado. A medida é considerada hostil por parte da Rússia, que ameaça com sérias consequências.