José Mário Branco morre aos 77 anos
19-11-2019 - 09:27
 • Renascença com Lusa

José Mário Branco é consensualmente considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período pós-1974. O seu trabalho estendeu-se ao cinema, ao teatro e à ação cultural. Marcelo Rebelo de Sousa classifica-o como um "insatisfeito" que era respeitado por todos e abre a porta a uma condecoração póstuma.

O músico José Mário Branco morreu esta terça-feira, aos 77 anos de idade.

Músico, compositor, letrista e produtor foi autor de várias obras que passam por géneros como a música popular, de intervenção ou o fado, entre outros. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” será o seu álbum mais emblemático.

Nasceu no Porto a 25 de maio de 1942, filho de professores primários José Mário foi, na juventude, dirigente de uma associação católica e, depois, opositor ao regime e membro do Partido Comunista. Perseguido pela PIDE, exilou-se em França, de onde apenas regressou após o 25 de Abril de 74.

Em declarações à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa descreve o cantor como um lutador. "O José Mário Branco era inconfundível, na sua voz e na sua independência", diz.

O Presidente admite que tentou condecorar o artista, mas recorda ele "nunca aceitou honrarias ou condecorações em vida". Admite, porém, condecorá-lo postumamente, mas diz que isso depende da sua família.

Marcelo sublinha ainda que José Mário Branco era um "insatisfeito".

"Sentia que havia uma parte de Abril por realizar e por isso continuou sempre a ser portador dessa insatisfação, em música. Mesmo para quem estava em quadrantes diferentes do seu, como era o meu caso no 25 de Abril, ele era uma referência porque nunca deixou de lutar pelas suas convicções."

Da música ao cinema e à ação cultural

José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período pós-Abril de 1974, cujo trabalho se estende também ao cinema, ao teatro e à ação cultural.

Foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge, Samuel e Nathalie.

Em 2017, foi homenageado na feira do livro do Porto, no mesmo ano em que celebrou 50 anos de carreira com o lançamento de um disco de inéditos, um duplo CD em que se reúne material disperso por singles e EPs.

Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.


Resistir terá sempre um disco seu

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, também lamentou a morte do músico e produtor José Mário Branco, dizendo que "resistir, em Portugal, terá sempre um disco [seu] como banda sonora".

Numa mensagem publicada na conta oficial do ministério, na rede social Twitter, José Mário Branco é lembrado como um "nome maior da música portuguesa" e uma "voz de luta e de intervenção".

"[A] Ministra da Cultura lamenta profundamente a morte de José Mário Branco, nome maior da música portuguesa. Voz de luta e de intervenção, o seu legado é intemporal e é património coletivo", acrescentou, na mesma mensagem.