O projeto “Prevent It” destinado a ajudar pessoas com interesse sexual por crianças, com o objetivo de prevenir crimes de abuso, recebeu 100 inscrições no último ano e meio, mas apenas 14 pessoas completaram, de facto, este programa de intervenção psicológica.
A investigadora Joana Carvalho, que coordena o projeto em português, diz à Renascença que o facto de apenas 14 dos 100 inscritos em Portugal terem terminado o programa pode estar associado ao estigma social de que as pessoas com tendência para a pedofilia são alvo.
“É uma das principais barreiras à procura de ajuda e à falta de confiança, dado o receio de denúncia, mesmo na ausência de atividade criminal”, refere a especialista, explicando que os dados clínicos destas pessoas serão analisados pelos investigadores com detalhe nos próximos meses, bem como a eficácia do método utilizado.
Disponibilizado de forma gratuita e anónima, este programa de intervenção psicológica online teve início em 2023. Além de Portugal, o Prevent It tem sido também aplicado na Alemanha, onde recebeu mais de 300 inscrições, e na Suécia onde foram contabilizadas 60.
Homens, solteiros e sem filhos
Em Portugal, as pessoas que pediram ajuda são do sexo masculino. A maioria é solteira, empregada e sem filhos. Joana Carvalho adianta, ainda, que ao contrário da Alemanha e da Suécia, em que a idade varia entre os 31 e os 35 anos, em Portugal oscila entre os 18 e os 25 anos.
“Esta prevalência de uma faixa etária bastante jovem pode refletir a sua literacia digital, que facilita o acesso a este tipo de programas online, mas também a situação de vulnerabilidade em que estes jovens se encontram, já com histórico de doença mental e que requer naturalmente uma reflexão sobre as formas de atuarmos, antes de poderem atuar criminalmente”, refere a especialista da Universidade de Aveiro.
O programa foi discutido junto das polícias de cada país, explica Joana Carvalho, para quem se deve invistir mais em projetos semelhantes ao “Prevent It”, através de uma legislação que “facilite o acesso” e incentivando estas pessoas a “não terem medo de se inscreverem e continuarem, abertamente e com confiança, a interagiram com os terapeutas”.
“É igualmente importante atuar ao nível da consciencialização social”, diz a coordenadora, sublinhando, ainda, a necessidade de reforçar programas de proteção junto das crianças.
“Tudo isto existe. Não é novo. Falta sim uma visão que dê prioridade a este assunto”, remata.