O primeiro-ministro britânico Boris Johnson sofreu ontem uma derrota política devastadora. Os onze juízes do Supremo Tribunal do Reino Unido decidiram, por unanimidade, declarar a suspensão do parlamento “ilegal, nula e sem efeito”. A Câmara dos Comuns, fechada por Boris desde 14 deste mês, só deveria reabrir a 14 de outubro. Afinal, reabre hoje mesmo.
Os colaboradores do primeiro-ministro não acreditavam numa sentença tão frontalmente contrária aos seus planos políticos. E Boris Johnson embaraçou a rainha Isabel, a quem enganou para que ela permitisse aquela absurda suspensão do parlamento. Diz a BBC que, em dois meses de poder, Boris perdeu seis votações sucessivas na Câmara dos Comuns, violou a lei e enganou a rainha. Pode acrescentar-se, ainda, que ele colocou o Reino Unido numa crise constitucional sem precedentes.
Boris Johnson também ilude os britânicos quando anuncia “avanços” nas negociações com a UE. O problema da fronteira da Irlanda está tão insolúvel como há três anos – a menos que os conservadores mais favoráveis ao Brexit aceitassem uma união aduaneira com a UE, coisa que eles abominam. E é chocante que da parte britânica não tenham surgido propostas credíveis sobre esta questão fulcral. Assim, torna-se uma fantasia pensar que, para que a saída do Reino Unido da UE se concretizar a 31 de outubro, seria possível haver acordo entre Londres e Bruxelas até 14 do próximo mês.
Como populista que é, Boris quer eleições para colocar o “povo” contra os deputados, os outros políticos, os juízes, os jornalistas, etc.
Só que, para convocar eleições, terá de haver uma maioria de 2/3 dos deputados na Câmara dos Comuns nesse sentido. O líder trabalhista, J. Corbyn, não é um europeísta e tem como alvo prioritário chegar a primeiro-ministro. Mas as sondagens apontam para uma vitória do partido conservador em caso de eleições a curto prazo... Por isso não é de esperar que Corbyn ajude Boris Johnson com votos trabalhistas para organizar eleições já. Não é um populista eficaz quem quer.
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