O secretário-geral da ONU, António Guterres, teceu esta terça-feira duras críticas à governação global "presa no tempo", dando como exemplo o próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas e as instituições financeiras de Bretton Woods.
No seu discurso de abertura do debate da 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU (UNGA 78, na sigla em inglês), Guterres sublinhou que esses dois sistemas refletem as realidades políticas e económicas de 1945, no pós-II Guerra Mundial, quando muitos países agora representados no plenário da ONU ainda estavam sob domínio colonial.
"O mundo mudou. As nossas instituições não. Não podemos resolver eficazmente os problemas tais como eles são se as instituições não refletirem o mundo tal como ele é."
"Em vez de resolverem problemas, correm o risco de se tornarem parte do problema", disse Guterres, que se tem posicionado como um forte defensor de reformas das instituições financeiras internacionais e do Conselho de Segurança da ONU, apelando hoje que este seja alargado à União Africana.
Rússia criou "insegurança para todos"
O secretário-geral da ONU adiantou que a invasão da Ucrânia pela Rússia é "prova" de uma violação da Carta das Nações Unidas, ressaltando que a guerra criou "um mundo de insegurança para todos", voltando a dar destaque ao conflito lançado pela Rússia ao sublinhar a importância do compromisso de paz patente na Carta das Nações Unidas.
"Em vez de se acabar com o flagelo da guerra, estamos a assistir a uma onda de conflitos, golpes de Estado e caos. Se todos os países cumprissem as suas obrigações nos termos da Carta, o direito à paz estaria garantido", começou por dizer.
"Quando os países quebram esses compromissos, criam um mundo de insegurança para todos. Prova A: A invasão da Ucrânia pela Rússia. A guerra, em violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, desencadeou um nexo de horror: vidas destruídas; direitos humanos violados; famílias dilaceradas; crianças traumatizadas; esperanças e sonhos destruídos", afirmou o líder da ONU.
Zelensky em Nova Iorque
O discurso de Guterres antecede o do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ainda hoje – e pela primeira vez presencialmente - na Assembleia Geral (AG) da ONU, após ter participado remotamente no ano passado, através de uma mensagem pré-gravada.
Afirmou ainda que a "ameaça mais imediata ao futuro" humano é o sobreaquecimento do planeta, salientando que as alterações climáticas registadas são "apenas o começo".
Guterres pediu "determinação" no combate ao sobreaquecimento do planeta, sustentando que as mudanças climáticas não são apenas uma mudança no clima, mas que estão a mudar a vida no planeta e a matar e devastar comunidades.
"Em todo o mundo, assistimos não só à aceleração das temperaturas, mas também à aceleração do aumento do nível do mar, ao recuo dos glaciares, à propagação de doenças mortais, à extinção de espécies e a cidades sob ameaça. E isto é apenas o começo", observou.
"Acabamos de sobreviver aos dias mais quentes, aos meses mais quentes e ao verão mais quente de que há registo. Por trás de cada recorde quebrado estão economias quebradas, vidas quebradas e nações inteiras à beira do colapso. Todos os continentes, todas as regiões e todos os países estão a sentir o calor. Mas não tenho a certeza se todos os líderes estão a sentir esse calor", disse.
O ex-primeiro-ministro português, que tem na agenda climática e ambiental uma das prioridades do seu mandato, argumentou que as ações para travar esta crise estão "terrivelmente aquém" do esperado.
[atualizado às 15h17]