A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, criticou hoje a "luz verde" dada à Central Fotovoltaica de Cercal do Alentejo, em Santiago do Cacém (Setúbal), que está "em contraciclo" com o combate às alterações climáticas.
"A autorização que foi concedida para esta central fotovoltaica está, claramente, em contraciclo com aquilo que tem que ser o desígnio de Portugal e do mundo para combater as alterações climáticas e proteger o património natural", disse.
Em declarações à agência Lusa, após participar numa reunião pública contra a central, a convite do Movimento Juntos pelo Cercal do Alentejo, Inês Sousa Real criticou a "opacidade" e "celeridade" do projeto.
"Basta ver que a audição pública", no âmbito do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), "esteve aberta três dias, o que denota falta de vontade política de ouvir a população e os interesses da população", acusou.
Garantindo que o PAN está solidário com a população de Cercal do Alentejo, nomeadamente com o movimento criado para contestar a central, Inês Sousa Real assinalou também que o projeto vai afetar "uma região marcada pelo turismo", como o de natureza.
"Estar a descaracterizar esta região" com "investimento que não reverte para a população, mas sim para a empresa e interesses económicos por trás de quem vai proceder ao investimento, parece-nos mais política de "greenwashing"" e está "em contraciclo com aquilo que é a necessária transição verde, a transição energética", disse.
Apesar de ser hoje "um imperativo o combate às alterações climáticas" e a transição energética ser "fundamental", este trabalho não pode ser feito "destruindo outros valores ambientais, nomeadamente vegetação, a cobertura vegetal, desaparecendo com biodiversidade, incluindo espécies sensíveis e com interesse na região".
Inês Sousa Real defendeu que, numa altura em que foi conhecido o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado na segunda-feira, "é de facto particularmente gravoso que o Governo não trave estas iniciativas". .
E "que a APA continue a dar "carta verde", vergonhosamente, a este tipo de instalações, porque estarmos a ter a mesma tutela para a área e ser um "braço armado" do Ministério do Ambiente não está a servir os interesses da proteção ambiental" e "da população", acrescentou.
O PAN prometeu "legislar" sobre esta matéria, acautelando que exista "uma Avaliação de Impacte Ambiental para estas centrais fotovoltaicas feita com critérios adequados", e também "fazer pressão junto do Governo para que oiça a população".
O projeto da central, promovido pela empresa Cercal Power, S.A, do grupo Aquila Capital, tem um investimento global previsto de 164,2 milhões de euros e uma área de implantação de cerca de 816 hectares, embora a ocupação seja de 320 hectares (40% da área), onde serão instalados 553.800 painéis fotovoltaicos.
O Movimento Juntos pelo Cercal do Alentejo já admitiu poder vir a recorrer aos tribunais para procurar impedir o avanço do investimento.